Salve, Jaiminho!
Realmente há pessoas que não morrem… Em cada planta do Cerrado vejo Jaiminho. Em cada estrela vejo Jaiminho. Caminhando aqui pela chácara, onde se hospedou para fazer acontecer – a fórceps – o primeiro FICA, o vejo em seu jeito todo seu.
Por Graça Fleury
Sem ele, o FICA não teria acontecido, sem Jaiminho a cidade de Goiás teria dado um vexame, pois não tinha uma estrutura suficientemente organizada para recepcionar, condignamente, tantas as pessoas de fora de nossos limites nacionais.
Jaiminho fez de tudo um pouco, homem de sete instrumentos, ajudado por Rodrigo Santana, Vilaboense total que pegou o jeito certo de fazer acontecer… custe o custar!
Essa criatura, esse pequeno grande homem, está impregnado em todos os outros seres dessa nossa terra que ele adotou como sua, cuidando dela com muito zelo. Exemplo disso é a Linda Serra dos Topázios, seu pequeno santuário Spinoziano.
Quanta dedicação, que sacrifícios estupendos, inclusive financeiros, mas que exemplo de vida! Quem privou de sua amizade, companhia, camaradagem, pode se ajoelhar e agradecer por ter tido essa honra.
Eu tive essa grande sorte e, nos sons do farfalhar das folhas ao vento seco dessa época do ano, aqui em Goiás, um forte e certeiro desejo invade toda a minha alma…
Muitos Jaiminhos irão nascer no coração da juventude brasileira, cerratense, para ir contra o que estamos vivendo nesse momento terrível da história do nosso país. Sim… para mim sei que a morte dele, nesse momento, foi um ato de subversão. Não sei explicar direito (talvez nem queira ou seja preciso) dentro de uma lógica cartesiana, tão visada por todos, mas que foi. Jaime sempre foi um revolucionário.
Lembro-me da viagem pra Salvador, de carro, Paulo Bertram e ele foram bateando cada pepita valiosa no meio do caminho, cidades pequeninas, lugares paradisíacos na Chapada Diamantina. 2001… certamente.
Lembro-me de uma feira de livros em Brasília… Jaiminho me telefonou, me intimando a estar lá com ele para recepcionar Vandana Shiva. Ele seria seu interlocutor e sua companhia naquele dia. Que oportunidade maravilhosa foi presenciar aquelas duas feras discutindo sobre os nossos problemas ambientais antes da fala dela para uma plateia enorme. Algo mais do que inesquecível!
Lembro-me, lembro-me, lembro-me… Eu poderia ficar escrevendo páginas e páginas, mas não é preciso. O legado de Jaime está vivo e será cada vez mais forte. Precisamos dele. Precisamos, a exemplo de sua memória, seremos guerreiros como ele.