SALVE O CERRADO, O BERÇO DAS ÁGUAS: ABRAM ALAS PARA O BLOCO NÃO É NÃO!

SALVE O CERRADO, O BERÇO DAS ÁGUAS: ABRAM ALAS PARA O BLOCO NÃO É NÃO!

SALVE O CERRADO, O BERÇO DAS ÁGUAS: ABRAM ALAS PARA O BLOCO NÃO É NÃO!

Todo santo ano, todo Carnaval, lá vai o Bloco, pelas avenidas de Goiânia. Na bandeira: “Não é Não”! Formado na sua maioria por mulheres, de todas as idades, leva para as ruas temas fortes de luta, associados à leveza feminina

Por Laurenice Noleto, Lúcia Pedreira

Lá vão elas! Olhares desafiadores, sorrisos nos lábios, rebolando cheias de graça, sensualizando dentro das fantasias carnavalescas; brilham, exaltam a folia, rodopiam, desfilam. 

Lá vão elas, apoiadas por parceiros que acreditam que o mundo pode ser melhor. O Bloco Não é Não carrega na essência o combate ao assédio contra as mulheres, especialmente, contra as nossas meninas e adolescentes.

Lá vão elas, de todos os nomes, todas as cores e origens. Se exibem nas ruas, porque são livres, são libertadoras. São audaciosas e não poderiam ser diferentes, para romper as barreiras da ignorância, do preconceito. Não pedem licença para passar, carregam flores, abrem alas, distribuem alegria, sambam.

Lá vão elas! Escancaram a realidade, apitam pelo respeito, alertam para a prevenção da violência, combatem o feminicídio.

Lá vai o Bloco Não é Não! Segue o Carnaval na capital goiana, ocupa bares e praças. Leva ao público temas irreverentes, instigantes. Reverenciam personalidades femininas, ativistas, defensoras da igualdade de gênero e de raça.

Lá vai o Bloco Não é Não, formado por mulheres talentosas e criativas. Elas usam o talento, a diversidade das cores, para mostrar que a esperança existe, que a utopia não pode acabar.

Lá vão elas, revolucionárias, usam a estética do Carnaval para tratar assuntos polêmicos. Fora da folia, ocupam as ruas o ano inteiro, apoiam vítimas da violência, protestam, exigem justiça social. O Bloco brinca, dança e fala de coisas sérias, com arte e beleza.

Lá vão elas, já há sete anos, enchendo de beleza e poesia a luta de todas as mulheres, incluindo agora também a Mãe Natureza, por melhores dias.

Lá vai o Bloco, levantando a bandeira em defesa do segundo maior bioma da América do Sul: o Cerrado, o berço das águas do Brasil. Elas vão representando a flora e fauna deste universo que enfeita o território goiano.

Lá vai o Bloco Não é Não!

SALVE O CERRADO, O BERÇO DAS ÁGUAS!

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Fotos: Acervo Bloco Não é Não

Neste ano de 2025, o Bloco Feminista Não é Não leva para o Carnaval de Goiânia o tema: Salve o Cerrado, o berço das águas! As alas da folia vão mostrar ao público, por meio das fantasias, a beleza e o encanto de um dos maiores biomas do mundo.

A folia leva também o grito de socorro, um alerta para que as pessoas ajudem na preservação da fauna e da flora. Evitar os incêndios e o desmatamento são ações cruciais para salvar a natureza prodigiosa, que precisa urgentemente de cuidado, de ser conservada.

O Bloco Não é Não mostra no enredo que o “Cerrado não é apenas um bioma, é um tesouro cultural que abriga comunidades originárias e tradicionais, responsáveis pela preservação das águas e dos saberes que mantêm o equilíbrio do meio ambiente”.

Ao som dos tambores, no ritmo dos equipamentos de percussão, o Bloco vai às ruas acompanhado dos grupos Coró de Pau e Coró Mulher. Também é parceiro local o Circo Laheto, e ainda conta com a colaboração da dançarina e coreógrafa Cláudia Lúcia, além de DJs feministas como Gabi Matos e Iara Kevene.

O Carnaval 2025 do Bloco Não é Não é o palco de reflexão na defesa do segundo maior bioma da América do Sul. Levantamento do MapBiomas aponta que 42% da área agrícola do Brasil estão no Cerrado, ocupando cerca de 23,4 milhões de hectares. Tombado pela Unesco, como Patrimônio Mundial, ele está presente em 10 estados, e a maior perda da vegetação nativa é registrada em Goiás, Tocantins e Mato Grosso. 

Dados apurados pela Universidade Federal de Goiás relatam que, na última década, o Cerrado brasileiro, que possui uma das maiores biodiversidades do mundo, perdeu um milhão de hectares. A destruição é mostrada todos os anos, com imagens chocantes de incêndios e desmatamento.

Em Goiás, os quase 2 milhões de quilômetros quadrados de plantas nativas sofrem a ameaça constante da destruição. São os ipês, cajueiros, pequizeiros e tantas outras espécies, que já nascem adaptadas pela própria natureza para suportarem as intempéries do clima da região, da estiagem, mas não resistem à devastação provocada pelo fogo e pela abertura de novas áreas destinadas à agropecuária. 

O Cerrado é habitat de milhares de espécies de animais e vegetais e abrigo das águas do Brasil. Hoje, a fauna sofre, inúmeros bichos morrem – muitos já extintos –, os rios e inúmeras nascentes são afetadas.

A devastação da vegetação campestre e das árvores nativas, com caules tortuosos e cascas grossas, provoca o assoreamento e, consequentemente, a deterioração dos leitos dos rios, que correm o risco de sumirem. 

“O compromisso com a causa do Cerrado vai além do Carnaval, é o motor que nos move a cada dia, por isso lutamos por ele e por nossas raízes culturais. O Cerrado é o berço das águas que abastecem o Brasil, é o bioma vital para o equilíbrio do planeta e da vida de todos nós. Agora, ele precisa de nós, assim como precisamos dele “, ressalta Cida Alves, coordenadora do Bloco Não é Não.

imageLaurenice Nonô Noleto  Jornalista e escritora. Integrante do Bloco Não é Não. Conselheira da Revista Xapuri.

 

 

xapuri 124 WEB 27 page 0001 e1740429961856Lucia Pedreira – Jornalista. Integrante do Bloco Não é Não.

 

 

Fotos: Acervo Bloco Não é Não

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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