SANÇÕES CONTRA OS RUSSOS ATINGEM ATÉ O DOSTOIEVSKY!

SANÇÕES CONTRA OS RUSSOS ATINGEM ATÉ O DOSTOIEVSKY

Sanções contra os russos atingem até o Dostoievsky!

Acabo de saber que as autoridades do Mundo Livre estão escalando as sanções contra os russos com o objetivo de forçar a retirada das tropas do Putin do território da Ucrânia. Alvos da vez incluem os iates dos magnatas de Moscou, que estão sendo apreendidos ou afundados – os iates, não os magnatas. Também estão na mira os agentes do soft power da Federação Russa

Por Antônio Carlos Queiroz (ACQ)/via brasiliarios.com

Na quarta-feira, 2 de março, a agência italiana de notícias ANSA informou que a Universidade de Milão-Bicocca cancelou um curso sobre o cidadão russo Fiodor Dostoievsky, muito atuante no possante ramo literário daquele país. Na sequência, o Teatro Govi, de Gênova, cancelou um festival de música e literatura programado para homenagear o escritor, e o prefeito de Florença, Dario Nardella, disse ter recebido vários pedidos para derrubar uma estátua desse tal Dostoievsky, inaugurada em dezembro do ano passado.

Num grande esforço de reportagem, conseguimos gravar clandestinamente, com exclusividade, trechos da conversa de dois agentes da Polizia di Stato, a polícia civil nacional da Itália, discutindo medidas retaliatórias contra os aliados do presidente Vladimir Putin:

Beppo – Peça à Agenzia delle Entrate (secretaria da Receita) um levantamento dos bens desse Fiodore pra gente ordenar o congelamento!

Carlino – Subito!

Beppo – Vamos filtrar a lista dos outros bersagli (alvos). Na letra T tem três suspeitos: Lev Tolstoy, Lev Trotsky e Piotr Tchaikovsky. Confere aí!

Carlino – O tal do Trotsky tá limpo, é ucraniano. Mas o Tolstoy, russo, parece barra pesada. Escreveu até um tratado sobre guerra e paz. Deve ser conselheiro militar do Putin. O Tchaikovsky, hum, esse é músico. Suspeitíssimo! Diz aqui que ele andou visitando 15 cidades da Ucrânia, e que uma das peças dele tem até tiros de canhão. Deve ser um instrutor de artilharia disfarçado!

Beppo – Hum! Letra P, letra P… Ah, Pushkin, Alexander Pushkin! Será que é parente do homem?

Carlino – Acho que não, parente mesmo, talvez primo, deve ser aquele tal de Rasputin. Esse Pushkin aí escreveu um relatório sobre a filha de um capitão. Também deve ser conselheiro militar.

Beppo – Ok! Na letra M tem um Maiakovsky, Vladimir…

Carlino – Esse é bielorusso…

Beppo – Ô, Carlino, tenha a paciência! Bello! Vá te foder! A gente morrendo de trabalhar e você aí curtindo a beleza do sujeito! Sua mulher já tá sabendo dos seus pulinhos, fofo?

Carlino – Não, seu stronzo, cazzone, cretino, imbecille, ignorante! O cara é da Bielorússia, um país aliado do Putin!

Beppo – Ah, desculpe, fratellino! Marque ele aí então como objetivo… Hum, tem aqui um tal de Nikolai Google… Que que diz a ficha dele?

Carlino – Nikolai Google… Google… Google… Ah, achei! É Gógol, idiota! Ih, cara, esse vai dar confusão. Os russos dizem que ele é russo, mas os ucranianos juram que é ucraniano. Vamos botar na reserva pra checar. Mas já vou anotar que ele é suspeito de traficar drogas. “O Nariz”… esse conto que ele escreveu não está me cheirando bem!

Beppo – Clica aí, uai! Na letra B tem um tal de Bulgakov, Mikhail…

Carlino – Ah, esse é ucraniano, nasceu em Kiev. Diz aqui que ele é amigo dum alemão chamado Woland… Dia desses esse elemento espalhou o maior terror em Moscou. Parece que é o próprio Diabo em figura de gente! Dio mio, só tem doido nesse mundo!

Beppo – È vero! Ô, Carlino, vê se a Receita mandou o relatório do Fiodore!

Carlino – Opa, chegou! Ih, o sujeito não tem nada, tá na pindaíba. Está devendo uma fortuna no cassino de Baden-Baden!

Antonio Carlos Queiroz – Jornalista. 

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Reprodução/Internet

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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