Se o poder é bom, negras e negros querem o poder
Neste mês de novembro, quando comemoramos a Consciência Negra, traz em contribuição um lindo poema de Cristiane Sobral, que fala de resistência e resiliência e traz também a necessidade de mulheres negras em espaços de poder e convoca o povo preto para lutar e resistir
Por Ieda Leal
Nós Mulheres Negras
Resistência
Amanhã, estaremos vivas
Com as unhas pintadas de vermelho
Os lábios rubros beijando nossos pretos
em praça pública
Com prazer
Protestando contra a violência
Que reine a resiliência
Porque vamos encher a Terra com nossos filhos
Até que cesse o choro
Seremos as loucas que sabem sorrir
As bruxas que sabem brotar diante do mal
Mulheres inteiras que sabem gozar
Sabem gostar da vida.
(Cristiane Sobral – Terra Negra)
Ano eleitoral, muitas mulheres negras se manifestando e se colocando para lutar mais, isso é bom…
Compreender nossa importância. Ter a plena certeza das nossas contribuições para a organização das cidades, nossas cidades… Passo fundamental para a colaboração na construção urgente de locais para proteger a vida. Termos parlamentos voltados para a melhor discussão política de respeito aos seres humanos e garantir a participação de todas, todos e todes nessa sociedade.
A participação de mulheres em espaços de discussão e formulação de conjuntos de ideias para gerenciar uma cidade deve ser prerrogativa número um para toda sociedade. Nós mulheres negras, já faz um tempo que decidimos para além de saber e entender os 5 mil municípios existentes no Brasil, precisávamos participar das decisões, mas firmes. Marcha das Mulheres Negras (2015) e Encontro das 1.000 Mulheres Negras em Goiânia (2018) foram momentos fundamentais onde as atividades reafirmaram nossos compromissos diante da vida, dando um peso maior nas nossas memórias de luta e de resistência. Salve Zumbi de Palmares e Salve Dandara!
Decidir nossos caminhos… Sim, reconhecimento da nossa contribuição e de que não precisamos que falem por nós. Muito ainda há para se conquistar…. Muito Mesmo. Mas, definitivamente, este Mês de Novembro, Mês da Consciência Negra, tem sabor diferente.
Já saímos vitoriosas nessas eleições. Vamos decidir nossos próximos quatro anos, elegendo nosso povo negro para as câmaras e prefeituras deste país. Teremos uma noção do que virá pela frente. A convocação para que a população negra permaneça unida e eleja um número maior de representantes nas câmaras e nas prefeituras já está sendo um movimento vencedor, não pararemos mais, vamos continuar convocando para colocar este país com a nossa cara preta.]
Existem situações em que não podemos mais abrir mão. As condições de vida para a população negra neste país precisa melhorar, e devemos passar a exigir os investimentos em vidas humanas, nas melhorias significativas dos espaços em que vivemos. As escolas precisam acolher mais e melhor nosso povo, não estamos reeditando nossa luta, estamos tão somente afirmando nossa pauta de luta e de resistência. E convocando para o voto negro, para garantir o poder da representatividade.
Vamos mudar essa história, Brasil. No mês da Consciência Negra, vamos eleger negras e negros comprometidos (as) com a luta contra o racismo e a perversidade do capitalismo.
Poder é bom, por justiça social e equidade.
Se o poder é bom, negras e negros querem o poder.
Iêda Leal – Coordenadora Nacional do MNU. Tesoureira do SINTEGO. Manifesto lançado pelo MNU em 21 de março de 2020.