SOBRE EUNICES, CLARICES, THEREZAS, ELIZABETHS, MARIAS...

SOBRE EUNICES, CLARICES, THEREZAS, ELIZABETHS, MARIAS…

SOBRE EUNICES, CLARICES, THEREZAS, ELIZABETHS, MARIAS…

Os dias que antecedem o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março deste ano, foram marcados por controvérsias devido ao enorme sucesso que teve em seu centro a premiação do Oscar para o papel de melhor atriz

Por Inês Ulhôa

Estavam no jogo duas mulheres sexagenárias, uma jovem atriz, uma transexual e uma mulher negra. Cada uma delas desempenhava um papel marcante e forte atuação. Pois foi justamente nos papéis desempenhados que as controvérsias foram marcantes, mas que não serão aqui analisados. 

O que se quer são os temas geradores desse debate, que levantaram questões como feminismo, etarismo, transexualidade, movimento negro, LGBTQIA+ e lutas sociais e libertadoras.

É bastante interessante este debate vir no momento em que a visibilidade da mulher ganha força a cada edição do Dia Internacional da Mulher. E o filme Ainda Estou Aqui, que deu o primeiro Oscar ao Brasil, é responsável por retratar o drama de Eunice Paiva, representando a dor e o sofrimento de tantas outras mulheres vítimas da ditadura militar, que, no Brasil, durou 21 anos. 

Estamos falando de Eunices, Clarices, Therezas, Elizabeths e Marias que também estão retratadas neste drama e que também sofreram os horrores do obscurantismo representado pela ditadura militar, mas que foram protagonistas e vozes da resistência.

Essa geração de mulheres lutadoras se tornou mais reconhecível a partir da criação da Comissão Nacional da Verdade, em novembro de 2011, pela presidenta Dilma Rousseff, para investigar as violações de direitos praticadas pelo Estado brasileiro entre 1946 e 1988, com foco nos 21 anos de ditadura militar, juntamente com a Lei de Acesso à Informação, que determina, entre suas atribuições que informações ou documentos que versem sobre violações de direitos humanos não podem ser objeto de restrição de acesso ou destruição. 

A Comissão conseguiu gerar um enorme acervo, fruto de uma luta incansável de vítimas e testemunhas dos tempos sombrios da ditadura militar. O relatório final orienta que o Estado Brasileiro responsabilize juridicamente as pessoas apontadas como responsáveis pelas violações de direitos. Sugere ainda que seja criado um órgão de governo para dar continuidade às buscas de restos mortais de 210 pessoas que seguem desaparecidas.

Neste dia 8 de março, em que o feminismo já se encontra espraiado e as mulheres ocupando espaços que lhes são devidos, não se pode esquecer das mulheres que, desde os anos 1800, lograram a luta pela igualdade de direitos entre os gêneros como condição necessária para a emancipação da mulher. 

Como consequência desse movimento, foi realizada, em 1907, a Primeira Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, que trouxe em sua resolução final como principal reivindicação “o direito ao sufrágio universal da mulher para as mulheres adultas, sem limitação alguma no que se refere à propriedade, ao pagamento de impostos, ao grau de educação ou a qualquer outra condição que exclua aos membros da classe operária do exercício deste direito”. 

Essa resolução já demonstrava a importância da educação e do conhecimento no caminho do pensamento crítico em vistas da libertação para as classes oprimidas para entender sua opressão e reivindicar igualdade de justiça. O que deixa evidente que o Dia Internacional da Mulher é o dia da mulher trabalhadora.

A prática de celebrar esta data é momento de valorizar e reconhecer o trabalho das mulheres, seja em qualquer espaço. Por isso, torna-se urgente a atuação do Estado, em sincronia com as questões do nosso próprio tempo, na promoção de mudanças estruturais e culturais que favoreçam a inserção da mulher nos espaços públicos, nas universidades, no incentivo à educação antissexista e antirracista e à redução na distância salarial entre homens e mulheres, comprometendo-se por maior valorização e reconhecimento do trabalho das mulheres.

E porque a história demonstra não estar completa no que diz respeito à valorização e reconhecimento do papel da mulher na sociedade é que a Editora UnB se soma ao coro de vozes que reivindicam a construção do conhecimento, que tem a educação como prática da liberdade, trazendo o visível e o invisível na produção de ideias para os processos de enfrentamento e resistência.

Nessa dinâmica, ressaltamos a quantidade de obras de autoria feminina do nosso acervo na produção do conhecimento, o que revela uma política de fortalecer a presença de mulheres intelectuais no pensamento social, cujas interpretações ajudam a conscientizar, libertar, humanizar.

Um viva às mulheres guerreiras de todo o mundo!

29dez2020 Ins Ulha arquivo pessoal1 32214Inês Ulhôa – Jornalista. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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