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Sônia Guajajara: Estamos vivendo uma guerra declarada

“Estamos vivendo uma guerra declarada contra os povos indígenas”, diz Sônia Guajajara

Em pouco mais de dois meses de governo, a gestão Jair Bolsonaro promoveu algumas ações que impactam diretamente na vida da população tradicional do País. Uma delas, por exemplo, foi passar a de terras indígenas e quilombolas para o Ministério da Agricultura. Antes, a atribuição era da Funai (Fundação Nacional do Índio)…

Em entrevista ao blog, Sônia Guajajara, coordenadora executiva da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), afirmou que essas ações do governo promovem “o que há de pior no ser humano” e respalda “ódio, e ” pelo Brasil. “As pessoas que têm essa visão equivocada de mundo sentem-se autorizados a expressá-la das mais diversas formas, porque se baseiam no discurso da mais alta autoridade do País”, disse.

Segundo ela, ataques contra indígenas começaram desde a campanha de Bolsonaro. Sônia acredita que o meio ambiente está sendo colocado de lado nas pautas do governo e que apenas o setor de produção está sendo promovido. “Estamos vivendo uma declarada contra os povos indígenas, mulheres, pobres, povos e comunidades tradicionais, negros e negras, população LGBT e meio ambiente”, afirmou ao blog.

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Sônia Guajajara vê guerra contra povos indígenas. Foto: Reprodução/Instagram

Leia a entrevista completa:

O que representam as recentes ações do governo em relação aos indígenas e suas terras?

Sônia Guajajara: O governo Bolsonaro promove o que há de pior no ser humano. Respalda o ódio, a violência e racismo e ainda sob o viés fascista, o que se torna ainda mais grave. As pessoas que têm essa visão equivocada de mundo sentem-se autorizados a expressá-la das mais diversas formas, porque se baseiam no discurso da mais alta autoridade do País. Estamos vivendo uma guerra declarada contra os povos indígenas, mulheres, pobres, povos e comunidades tradicionais, negros e negras, população LGBT e o meio ambiente. Não há como citar os prejuízos aos direitos e povos indígenas sem mencionar toda essa classe trabalhadora que também está sendo duramente impactada por esta farsa de governo.

Quando isso começou?

Sônia: Para nós, indígenas, os ataques começaram desde a campanha quando ele afirmava que não demarcaria mais um centímetro de terras indígenas, depois de eleito ele começou a operar logo no dia 1 de janeiro quando adotou a MP [Medida Provisória] 870 que transfere a Funai do Ministério da para o Ministério da Damares [Alves] e retira as pastas da demarcação e licenciamento ambiental e entrega para o .

O que isso significa?

Sônia: Com essa medida ele efetiva a PEC [Proposta de Emenda à Constituição] 215, entregando a responsabilidade das demarcações diretamente na mão dos ruralistas, que são exatamente os querem inviabilizar todos os processos e procedimentos de regularização fundiária no Brasil. Se depender dele, todas as terras públicas serão entregues para o que eles alegam ser “setor de produção”, seja agrícola, mineração ou pecuária ou madeireira. A conta para manter sua base parlamentar está sendo paga com o desmonte das estruturas de e direitos conquistados. É o governo que representa a maior tragédia aos direitos humanos e ambiental nos últimos séculos.

Como você vê essas ações?

Sônia: Tenho certeza que é a primeira vez na história do País que a gente torce para que não sejam cumpridas as promessas de campanha. Ele tá cumprindo o que convém para seus negócios familiares e entre amigos. Mas também está sentindo que o Brasil não é a fazenda dele, que faz o que quer. O País tem regras, tem leis e tem muita gente de luta de olho para evitar a barbárie. Se não está fácil pra nós, também não vai ser simples pra ele. Vamos reagir sempre!

Quais ações coletivas estão sendo articuladas para barrar isso?

Sônia: Estamos organizando a nossa tradicional mobilização em Brasília, a Marcha das Mulheres Indígenas, [também fazendo] articulação entre os diversos movimentos sociais, denúncia internacional, campanhas dos embargos aos produtos do agronegócio comprados e produzidos em áreas de conflitos. Enfim, não estamos parados vendo a banda passar. Se estamos vivos até hoje é porque sempre conseguirmos usar nossas estratégias de resistência.

Qual será o cenário se essas ações continuarem?

Sônia: Já estamos num cenário de guerra fria, perseguição a lideranças e organizações não governamentais, movimentos sociais e de direitos humanos, [estamos vendo o] aumento de conflitos no campo por conta de seus discursos de incitação ao ódio e a violência, retiradas de direitos por meio da Reforma da Previdência, ameaças e perseguição a todas e todos que se opõe a suas atitudes, à exemplo de Jean Wyllys, que foi obrigado a ir embora do País para garantir a sua vida.

Isso vai aumentar?

Sônia: Tudo isso tende a aumentar, pois seu plano de governo é uma agenda altamente destrutiva. Liberar mineração, arrendamento e loteamento em/de terras indígenas, desenvolvimento da Amazônia numa perspectiva predadora, povos isolados e recentes contato, ordens de despejo, educação conservadora, saúde indígena municipalizada. Tudo isso são ataques diretos não só aos direitos, mas à vida, à cultura e às identidades diversas dos povos.

Quais foram as ações que mais te deixaram preocupada?
Sônia: Nomeação de ministros e secretários investigados e/ou condenados pela Justiça, [Sérgio] Moro dizer que Caixa 2 não é mais corrupção, posse de arma para combater a violência, desmonte da Funai e transferência do órgão e suas atribuições conforme os interesses ruralistas, extinção da Secadi (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, e Inclusão) do MEC (Ministério da Educação), extinção do Consea (Conselho Nacional de Alimentar e Nutricional), plano de desenvolvimento da Amazônia e liberação da mineração em terras Indígenas sem o direito de consulta. Enfim, 70 dias de governo que parecem já 50 anos de atraso.

Tem sugestões ou denúncias? Mande um e-mail para giorgia.cavicchioli@gmail.com.

Fonte: br.noticias.yahoo.com


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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