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Titulação de Terras Quilombolas sem previsão

Terras Quilombolas: Titulação fora do horizonte

Titulação fora do horizonte: mais de 1.500 comunidades quilombolas esperam pelo título de suas terras

Em 20 de novembro,  dia da Consciência Negra, a Comissão Pró-Índio divulgou seu balanço anual sobre a evolução dos processos de titulação das terras quilombolas.

Em 2016, apenas uma terra foi titulada até o momento. 

Longos 13 anos. É o que as 387 famílias quilombolas de Brejo dos Crioulos, em , aguardam pela conclusão do processo de titulação de suas terras no Incra. No Pará, em Oriximiná, o processo de regularização da terra Alto Trombetas, onde vivem 182 famílias quilombolas, se arrasta por 12 anos. Já na Paraíba, as 39 famílias quilombolas de Serra do Talhado esperam há 11 anos que o Incra finalize o processo de regularização de suas terras.

Infelizmente, essa é a realidade de muitas comunidades quilombolas pelo Brasil. Segundo cálculos da Comissão Pró-Índio, 467 processos de terras quilombolas tramitam pelo Incra há 10 anos ou mais sem conclusão. Ao lado dos processos mais antigos, outros mais recentes se somam, chegando a um total de 1.525 processos abertos atualmente no órgão federal.

2016 vem se mostrando mais um ano de poucos avanços na regularização das terras quilombolas com apenas uma titulação até o momento. Após aguardar nove anos pela tramitação de seu processo no Incra, as 89 famílias quilombolas da comunidade Tabacaria recebem hoje (20/11) título de propriedade referente a 399 hectares dos 410 hectares reconhecidos e declarados como pertencente a comunidade.

Já no âmbito dos governos estaduais não se registra ainda nenhuma titulação esse ano. Os governos estaduais são os responsáveis pela titulação de grande parte das 165 terras quilombolas tituladas no Brasil. Foram 131 titulações realizadas pelos estados da Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí, e Rio de Janeiro. Da lista, os estados do Maranhão, com 52 terras, e do Pará, com 50, se destacam. Porém, o do norte do país, pioneiro na regularização de terras quilombolas, diminuiu consideravelmente o ritmo de titulações nos últimos anos.

Evolução Processos no Incra

As publicações em 2016 seguem a média dos anos anteriores mantendo-se bastante aquém da demanda. Do total de 1.525 processos no Incra, somente 37 tiveram avanços em 2016 com a emissão de Concessões de Direito Real de Uso (3) e publicações (5 decretos de desapropriação, 19 portarias de reconhecimento e 10 relatórios de identificação).

Os obstáculos para a concretização das titulações são muitos e diversos. A titulação das terras quilombolas envolve, em muitos casos, contrariar interesses de setores do e mesmo do governo. O orçamento do Incra para encaminhar os processos vem sendo reduzido a cada ano – em 2016, o Incra contou com um orçamento 73% inferior ao de 2015. E o Serviço Quilombola, embora tenha crescido e se consolidado nos últimos anos, ainda é insuficiente para dar conta da enorme demanda.

PLACAR 2016 (20/11/2016)

TÍTULOS EMITIDOS
1 terra titulada – 1 comunidade beneficiada.

PUBLICAÇÕES

Concessão de Direito Real de Uso: 03 terras – 3 comunidades beneficiadas

Decreto de desapropriação: 5 decretos – 5 comunidades beneficiadas

Portaria de Reconhecimento: 19 portarias – 19 comunidades beneficiadas

Relatório de Identificação (RTID): 10 RTIDs – 11 comunidades beneficiadas

Governo Temer

O governo Temer transferiu do extinto Ministério do Social e Agrário para a Casa Civil, a competência de delimitação das terras dos remanescentes das comunidades dos . O Incra – agora vinculado à Casa Civil – continua como o órgão responsável por conduzir os processos de regularização das terras quilombolas. Porém, tal mudança parece indicar que o andamento dos processos de titulação será ainda mais influenciado por decisões políticas.

A previsão orçamentária do governo Temer para 2017 sinaliza ainda maiores dificuldades para a execução da de regularização das terras quilombolas. A proposta encaminhada ao Congresso estabelece uma redução de 50% do orçamento do Incra para a titulação de terras quilombolas em comparação com 2016. A proposta prevê 4,1 milhões para a política de titulação de terras quilombolas, ante aos 8 milhões deste ano.

O cenário de baixa efetividade dos direitos dos quilombolas, portanto, tende a piorar. Até hoje, quase 30 anos após a garantir o direito dos quilombolas aos seus territórios, o governo federal titulou somente 37 terras sendo que 20 delas apenas parcialmente.

Assim, 92,5% das 214.000 famílias quilombolas que a SEPPIR estima existirem no Brasil permanecem na insegurança e vulneráveis às disputas e conflitos agrários enquanto aguardam a regularização de suas terras.

Monitoramento dos Direitos Territoriais

A Comissão Pró-Índio de São Paulo monitora, sistematiza e divulga dados relacionados aos direitos territoriais das comunidades quilombolas desde 2004. Os resultados da pesquisa são disponibilizados aqui.

É possível acessar os balanços mensais acerca da efetivação desse direito através desse link.

ANOTE AÍ:

Fonte originária do conteúdo integral desta matéria:   CPI SP

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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