Três em cada quatro brasileiros dizem se preocupar com as mudanças do clima, mostra pesquisa
Cerca de 196 milhões de pessoas no país – 94% – disseram acreditar que o aquecimento global está acontecendo. Dados serão usados em políticas públicas, afirma MMA.
O número de brasileiros que se dizem preocupados com as mudanças climáticas diminuiu nos últimos anos, mas ainda é uma porcentagem expressiva da população: 79% em 2022. No ano anterior, esse número era de 87%. Os dados fazem parte de uma pesquisa de percepção dos brasileiros sobre o tema das mudanças climáticas, realizada pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), em parceria com o Programa de Comunicação das Mudanças Climáticas da Universidade de Yale (EUA). O trabalho foi divulgado nesta sexta-feira (16).
Segundo o documento, 52% dos entrevistados se disseram “muito preocupados” e 27% “de alguma forma preocupado”. Do total da população, 20% disse que não está “muito preocupado” ou “nem um pouco preocupado”.
O Brasil ainda apresenta uma boa posição quando comparado com outros grandes emissores de gases estufa. Nos Estados Unidos, por exemplo, apenas 27% disseram estar “muito preocupados” e 37% “de alguma forma preocupado”. Cerca de um quarto da população americana não se preocupa de nenhuma forma com o tema.
A pesquisa também mostrou que 94% dos brasileiros – 196 milhões de pessoas – responderam que acreditam que aquecimento global e mudanças climáticas esteja acontecendo.
Novamente, quando comparado com os Estados Unidos, o cenário do Brasil é positivo: 70% dos americanos dizem acreditar. “Esse é um padrão que vem se repetindo de novo e de novo”, diz Anthony Leiserowitz, diretor do Programa em Mudanças Climáticas da Universidade de Yale.
O trabalho também mostrou que 74% dos brasileiros disseram haver concordância na Ciência sobre a existência das mudanças climáticas. Nos Estados Unidos essa porcentagem é de 58%.
No Brasil, a porcentagem de pessoas que acredita que as mudanças climáticas vão prejudicar as futuras gerações é alta: 87% da população. Nos Estados Unidos, o número é de 53%.
A pesquisa também mostrou que 74% dos brasileiros consideram mais importante proteger o meio ambiente, mesmo que isso signifique menos crescimento econômico e menos empregos (era 77% nos dois anos anteriores da pesquisa).
Por outro lado, 17% consideram mais importante a geração de empregos, mesmo que isso prejudique o meio ambiente – era 14% em 2020 e 13% em 2021).
“Essa pesquisa é fabulosa para a gente entender, medir a temperatura, de como a sociedade brasileira tem a percepção dos temas que são tão caros para nós como mudanças do clima. É a partir disso que a gente tem que monitorar e assegurar se as nossas políticas públicas respondem aos anseios do que a sociedade está pautando”, disse a Secretária Nacional de Mudanças do Clima do MMA, Ana Tori, durante a apresentação dos resultados.
Esta é a terceira edição do levantamento, que, entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, ouviu 2.600 pessoas com 18 anos ou mais. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com um nível de confiança de 95%.
Copo meio vazio
Se por um lado a pesquisa revelou que a maioria da população do Brasil acredita e se preocupa com o tema, cerca de 10 milhões de brasileiros (5%) não acreditam em aquecimento global ou mudanças climáticas.
Nos Estados Unidos, 16% da população – cerca de 54 milhões de pessoas – negam que o aquecimento global esteja ocorrendo.
Além disso, 12% dos brasileiros – 24 milhões de pessoas – também não acreditam que o aquecimento global é causado pelas atividades humanas. Nos Estados Unidos, essa porcentagem é de 27% – 91 milhões de pessoas.
Outro número apresentado no trabalho é o daqueles que se dizem conhecedores do tema: apenas 22% disse saber muito sobre mudanças climáticas e aquecimento global
Segundo Hugo Mendes, analista do MMA, os dados da pesquisa serão incorporados neste e outras políticas voltadas para o tema dentro do novo governo.
O Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas – peça chave no enfrentamento do problema e que foi paralisado durante o governo Bolsonaro – passa atualmente por revisão.
São esperadas três fases desse processo, diz o analista, sendo a segunda, com um diagnóstico do cenário brasileiro, a ser finalizada antes da Conferência do Clima em dezembro próximo. Em 2024, a terceira fase, de maior detalhamento dos diferentes módulos do plano, será finalizada.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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