Um manda o outro obedeçe

Um manda e outro obedece

Um Manda e outro obedece

É simples assim: Jair Bolsonaro repudia vacinas, mas precisa financiar sua campanha reeleitoral. Por isso, desautorizou Eduardo Pazuello, quando ministro da Saúde, a negociar diretamente com os laboratórios que desenvolveram as vacinas que estão sendo utilizadas no combate à pandemia – Pfizer, AstraZenica, Coronavac e outras…

Por Márcio Santilli

Em outra frente, favoreceu negociações com empresas de fachada, envolvidas em contratos suspeitos e dirigidas por escroques do mercado da corrupção, para intermediar a compra de milhões de doses de imunizantes que nem teriam como entregar, além disso, por preços superfaturados, com pagamentos antecipados e gordas comissões.

As tratativas foram interrompidas por denúncias, como a dos irmãos Miranda – um deputado federal da base do governo e um funcionário de carreira do Ministério da Saúde – que abortaram os pagamentos acordados. As investigações da CPI da Covid revelaram disputas por propinas entre militares e representantes do Centrão, fisiologicamente incrustados na estrutura da Saúde.

Das doze pessoas que, até agora, estão sendo formalmente investigadas pela CPI, seis são oficiais das Forças Armadas. Da reserva, como o ex-secretário executivo do Ministério, coronel Elcio Franco, e da ativa, como o próprio Pazuello, que, ainda por cima, participou de um comício reeleitoral de Bolsonaro, sem que sequer fosse punido pelo Ministério da Defesa.

Pazzuello mentiu em seu depoimento à CPI, ao afirmar, de forma até arrogante, que não recebia empresários para tratar de compras de vacinas, o que competia à área técnica. Mas, na semana passada, vazou um vídeo em que o então ministro da Saúde recebe representantes de uma empresa fake de intermediação e abençoa uma suposta compra, pelo triplo do preço, de 30 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac, que tem o Instituto Butantan como único representante legal no .

Ninho de

Outros seres esdrúxulos emergiram dessas trevas, inclusive um suposto vendedor de centenas de milhões de doses de vacinas indianas, que recebia o auxílio emergencial oferecido pelo governo aos afetados pela pandemia. Além de um pastor evangélico corrupto, que se valia de relação pessoal com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para obter o aval do presidente nos negócios suspeitos.

Roberto Dias tem currículo de escroque juramentado e chegou à diretoria de Logística da pasta da Saúde por indicação do deputado Ricardo Barros (PP-PR),  líder do governo na Câmara, ministro da Saúde no governo de Michel Temer e que responde por outros casos de corrupção. Foi a ele que Bolsonaro se referiu quando soube, pelos irmãos Miranda, da mutreta em curso. Seria para a cúpula do partido a sua reivindicação de um dólar por dose, num contrato de compra de 400 milhões de imunizantes. Bolsonaro não teve peito para afastar Barros da condição de líder.

Chegou à CPI, também por meio do deputado Luís Miranda (DEM-DF), a denúncia de que a empresa VTCLog, que transporta vacinas e outros insumos desde a gestão de Barros, reajustou contrato com o Ministério da Saúde por pressão do presidente do PP, senador Ciro Nogueira, e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). 

Foi esse caso que teria levado Pazuello a dizer, ao deixar seu cargo, que estava sendo derrubado por políticos que recebem pixulecos. O contrato turbinado envolveria propinas mensais de R$ 296 mil para cada membro da cúpula pepista. Vamos ver o que a CPI apurará a respeito.

Após a denúncia sobre a intermediação e a compra superfaturada de vacinas, trazida pelos irmãos Miranda e que teria levado o próprio presidente a citar Barros como responsável, Bolsonaro tentou reverter uma indicação pepista à presidência da Agência Nacional de Saúde (ANS), mas recuou, sob a ameaça de perder o apoio do partido e seu próprio mandato. Roberto Dias foi exonerado, assim como Pazuello e Elcio Franco, mas a hegemonia do PP prevalece nos descaminhos da Saúde.

Deputado Ricardo Barros, presidente Jair Bolsonaro, senador Ciro Nogueira e deputado Arthur Lira. Foto: reprodução do perfil no Twitter de Ciro Nogueira
Deputado Ricardo Barros, presidente Jair Bolsonaro, senador Ciro Nogueira e deputado Arthur Lira. Foto: reprodução do perfil no Twitter de Ciro Nogueira

Com 550 mil mortos, só 17% da população totalmente imunizada e baixa popularidade, Bolsonaro não manda mais no ministério que deveria gerir a crise sanitária. Muito menos o atual ministro, Marcelo Queiroga, que mais parece cego em tiroteio. Quem manda, mesmo, é o Partido da Pilhagem. E o “outro” obedece!

Em : foi confirmada, ontem, a nomeação do Ciro Nogueira, presidente do PP, como chefe da Casa Civil, em substituição ao general Luís Eduardo Ramos, que não gostou, mas vai aceitar outro cargo. Deu para entender?


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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