Voa, Jaiminho!

Voa, Jaiminho!

A Xapuri perde seu editor, nós… um amigo,  o mundo… uma enciclopédia, uma biblioteca!

 Por Iêda-Vilas Bôas

Já devíamos ter nos acostumado com partidas, tem sido fato corriqueiro nestes tempos pandêmicos. Poderíamos já ter aprendido que a é item primordial para a evolução dos seres. Que a vida é um nasce-morre-renasce infinito.

Poderíamos… deveríamos… mas como dói saber que o , o Jaiminho dos mais chegados, agarrou-se num rabo de cometa e voou, numa quarta-feira besta, 14 de julho, logo depois do almoço, em , vítima de uma parada cardíaca. Ele já andava com a saúde debilitada, não aguentou.

Era de uma educação, de uma calma, um sorriso sempre pronto para furtivamente escapar-lhe dos lábios, ainda que em situações tensas. Sempre que o via ou conversava com ele, tinha a nítida sensação de ternura que de meu pai emanava.

Um ser humano ímpar, de grandeza, sabedoria e conhecimentos imensuráveis e alma simples. À primeira vista, com seu chapeuzinho de lona clara e cabelos argênteos esvoaçantes brincando com a brisa, tinha-se a certeza de que era mesmo um cerratense, um caboclo aprumado, do centro de nosso , pronto para a missa domingueira ou o inconveniente passeio ao médico. Não fosse ninguém botar reparo na pele alvíssima já meio escurecida pelo sol avassalador do Centro Oeste brasileiro.

Encontrei-o de vez primeira numa reunião sobre o . E

quando vi aquele ser humano que irradiava luz e sabedoria, imediatamente fiz a ligação: É o idealizador do FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeos Ambientais, realizado na – Goiás. Sempre fui. Amo a cidade e assisti a shows fenomenais no Teatro São Joaquim ou na Praça do Coreto.

 Era ele, e estava numa sala de uma casa antiga, discutindo com poucos formosenses sobre uma futura construção de uma fábrica de cimento e as “ré-beldes” árvores da Praça da Matriz.

Depois desse deslumbre, a hermana me coloca de carona e fomos papeando sobre a visita que faríamos ao mais ilustre cidadão de Cristalina – Goiás. Uma descida de morro e encontro a fazenda mais linda que já vi: a RPPN (Reserva Particular do Natural) Linda Serra dos Topázios.

A casa feita em madeira, adornada por um colar imenso de cristais. Quando o dia amanhece, e o sol bate nas pedras, forma-se uma soleira de arco- íris, um radiante espetáculo. E livros, muitos, espalhados em inúmeras estantes. Sobre qualquer assunto, ele dizia: “Espera um pouquinho”. Corria o olhar vagueando e, certeiramente, como içado por flecha, trazia uma preciosidade sobre o tema. E indicava inúmeras leituras, entretanto adiantava: “Não empresto, já perdi muitos livros raros. Os que podem ser doados, eu doo. Anota aí os dados”.

E a vida me oportunizou trabalhar na Revista Xapuri, tendo o Jaime Sautchuk como Editor-Chefe, fazendo forte parceria com a Zezé Weiss. Foram bons pares de anos. Dava gosto pegar a edição mais nova e ler a matéria de capa, geralmente assinada por ele. Era mais uma aula em que se entrelaçavam teoria e a prática de quem realmente viveu o que escrevia. 

Ele que gostava da astronomia agora virou pó de estrelas. Ficam nossa gratidão e saudade.

Voa, Jaiminho!

Iêda-Vilas Bôas


Salve! Taí a Revista Xapuri, edição 82, em ao Jaime Sautchuk, prontinha pra você! Gostando, por favor curta, comente, compartilhe. Boa !
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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