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Xapuri: Nos 31 anos do assassinato de Chico Mendes, persiste a Resistência!

Xapuri: Nos 31 anos do assassinato de Chico Mendes, persiste a Resistência!

Por Marcos Jorge Dias

Xapuri, historicamente, é uma terra de disputa e de resistência. Foi lá que Plácido de Castro pôs fim à disputa com a Bolíviapela área que veio a se tornar o estado do Acre. Foi onde um simples seringueiro, usando da sua capacidade de convencimento junto a outros extrativistas, realizou os “empates” e conseguiu manter a floresta em pé, resistindo ao liderado por pecuaristas e madeireiros nas décadas de 70 e 80 do século passado. Foi em Xapuri que tombaram Ivair Higino e Chico Mendes, na luta pelo preservação do e pelo modo de vida do da região.

Transformado em referência mundial do socioambientalismo, Xapuri foi visitado pelos presidentes Fernando Henrique Cardoso e , logo que esse último assumiu o seu primeiro mandato.  Ao longo dos 20 anos em que o PT esteve no governo, o município recebeu investimentos que mudaram significativamente, para melhor – segundo os próprios moradores – a vida dos seringueiros e extrativistas em geral.

Foi, também, em Xapuri onde os investidores internacionais – Banco alemão KFW, GIZ, Banco Interamericano de Investimento – BIRD, mais financiaram projetos relacionados ao . Um desenho de política pública voltada para a conservação da floresta de maneira produtiva e economicamente viável. que abrange a infraestrutura (ramais, energia, transporte) e aspectos sociais e econômicos como saúde, , produção e arcabouço legal que pudesse dar garantias, jurídicas, aos atores sociais da região.

A Associação de moradores – AMOPREX, o sindicato dos e trabalhadoras rurais – STTR, a representação do Conselho nacional das populações extrativistas – CNS que agora está no Acre, bem como o ICMBio, gestor da RESEX Chico Mendes, são espaços que foram democraticamente constituídos para a gestão, elaboração de políticas públicas e projetos de interesse coletivo para a região. Assim, Xapuri é um município emblemático, pois representa a trajetória de luta e a resistência dos que militam na causa ambiental.

Portanto, é procedente a preocupação do presidente do SRTTR de Xapuri, Assiz Monteiro, quanto a posição do ministro do meio ambiente Ricardo Sales ao receber um grupo apontados em reportagem do dia 05 do corrente pelo jornal Folha de , como notórios infratores das Leis ambientais. Os componentes do grupo são por si e representam os interesses daqueles que visam extrair lucro da floresta sem os critérios adotados pelo projeto do desenvolvimento sustentável implantado pelo governo anterior.

Júlio Barbosa, atual presidente do CNS e ex-prefeito de Xapuri por duas vezes, se diz “preocupado com o andar das coisas”, pois vê no interesse do grupo pela região, uma ameaça a todos os avanços econômicos e políticos construído ao longos do últimos anos. Desmembramento da RESEX que abrange os municípios de Assis, , Brasileia, Epitaciolândia, Xapuri, Capixaba, Rio Branco e Sena Madureira, fazer mudanças nas Leis que possam favorecer o desmatamento e beneficiar moradores irregulares, ainda mais com a anuência do   Ministro do Meio ambiente abre precedentes para um cenário semelhante ao do assassinato de Chico Mendes, há 30 anos passados.

Na política, ainda segundo Júlio, a disputa por projeto político é normal e saudável. Contudo, no caso de Xapuri, a questão vai além da simples disputa política. É uma questão de tomada de espaço. Primeiro, por parte dos fazendeiros e madeireiros que tiveram que aturar por 31 anos a exaltação do nome Chico mendes como herói, salvador da floresta. Segundo, a movimentação feita pela deputada federal Vanda Milani, que sugeriu (e foi aceita) a realização de uma audiência pública na Reserva Chico Mendes para a verificação dos limites ocupados e titulados ainda antes da demarcação da reserva para proposta de lei de novos limites para a reserva, inclusive sendo compensada por áreas devolutas ou do Estado para recompor a totalidade da área da mesma, pode vir a ser o elemento que falta para o fim das reservas extrativistas.

Segundo Railson Nery Pereira, presidente da Associação de Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes- AMOPREX, o desmonte da teia jurídica que protege hoje a Resex Chico Mendes e o impedimento das ações de competência do ICMBio é o primeiro passo para o avanço desenfreado sobre outras áreas de proteção ambiental, como as terras indígenas, por exemplo. Por isso, começar por Xapuri, onde surgiu a ideia da criação das reservas extrativistas, tem um valor simbólico para o atual governo. Será um tiro no peito do movimento ambientalista e na sua militância.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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