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ZINA AITA: A QUASE-INVISÍVEL DA SEMANA DE ARTE MODERNA DE 22

Zina Aita: a quase invisivel participante da Semana de Moderna de 1922

Comemoramos recentemente o primeiro centenário da Semana de Arte Moderna, que ocorreu nos dias 13 a 17 de fevereiro de 1922. Ao analisarmos registros fotográficos do evento, inicialmente nos vem à cabeça uma importante pergunta: não foram convidadas? Mulheres não seriam suficientemente modernas para alcançar o imenso rol de homens que estavam à frente do movimento cultural e artístico? 

Por Iêda Vilas-Bôas

Inicialmente o movimento foi batizado de Semana Futurista e, depois se adequou o nome para Semana de Arte Moderna, as atividades levantaram uma nova concepção sobre a arte no , fizeram sucesso no Theatro Municipal de São Paulo artistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Heitor Villa-Lobos e Di Cavalcanti. Tornou-se marco e símbolo da proposta de modernização da , um dos mais influentes movimentos artísticos do país.

Voltemos, pois, para ambas as perguntas do primeiro parágrafo: a resposta é um sonoro Não. Até na Semana futurista de Arte Moderna o patriarcalismo deixou seu ranço com pigarros e cusparadas de um passado nem tão distante.

Infelizmente, somente três mulheres participaram da tão importante semana, foram elas: Tarsila do Amaral (a quem já dediquei minha escrita), Anitta Malfatti e, até então, a desconhecida de muitos: Zina Aita.

ZINA AITA: A QUASE-INVISÍVEL DA SEMANA DE ARTE MODERNA DE 22
Zina Aita – Acervo Histórico/Reprodução/Internet

Quem foi Zina Aita? Exímia pintora que nasceu Belo Horizonte – MG em 1900 e faleceu em Nápoles, Itália – 1967. Era uma jovem talentosa e de criativa expressão naquele ano de 1922.

Tereza Aita, de apelido e assinatura artística Zina Aita, ainda adolescente viaja para Florença – Itália, tem a oportunidade de realizar estudos com o artista Galileo Chini (1873–1956) na Accademia di Belle Arti di Firenze (Academia de Belas Artes de Florença).

Permanece na Itália entre 1914 e 1918. De volta ao Brasil, a jovenzinha conecta-se com os modernistas Manuel Bandeira (1886–1968) e Ronald de Carvalho (1893–1935).

Aproxima-se também da pintora Anita Malfatti (1889– 1964), de quem se torna amiga.

Conhece o escritor Mário de Andrade (1893–1945) e, por incentivo dessa turma de modernistas, expõe, pela primeira vez, sua arte, em mostra individual na cidade de Belo Horizonte – MG. Assim, antes de 22, em 1920, é considerada a precursora do modernismo em Minas Gerais.

Dessa exposição, foi um pulo para ser convidada a participar da Semana de Arte Moderna, em São Paulo. A revista Klaxon, antenada aos novos tempos e aos artistas singulares, contratou Zina para algumas publicações que foram de imediato elevadas ao pedestal de obras-primas. Talvez por não figurar amiúde do fechado grupo de artistas paulistas, em sua maioria homens, sua produção permanece pouco conhecida.

Na Semana de Arte Moderna, notou-se o interesse da artista em expor telas usando a técnica decorativa e pintura da figura humana, trazendo sua ligação com o impressionismo. 

Apresentou oito obras na Semana de Arte Moderna de 1922, sendo que Zina expôs três relevantes obras decorativas (A pintura decorativa é uma categoria ampla que engloba várias técnicas e meios de pintura aplicados a uma variedade de superfícies) na Semana: a de nº 47, Paisagem Decorativa, a de nº 48, Máscaras Siamesas e a de nº 51, Painel Decorativo.

Interessante saber que Zina Aita raramente dava títulos ou datava suas telas, talvez a opção de não assinar, datar ou colocar títulos em sua obra expressasse a personalidade sutil da pintora. Há os que disseram e dizem que Zina Aita como expositora de 1922 foi a que mais agradou ao público.

Segundo alguns estudiosos, sua pintura nesse período aproxima-se do movimento Art Nouveau e do pós-impressionismo.

Firme e confiante, mesmo com pouco prestígio, segue Zina Aita realizando mostras individuais. Em 1923, participa do 1º Salão da Primavera, no Rio de Janeiro. Em 1924, muda-se para a Itália, fixa residência em Nápoles e, ali, passa a dirigir e administrar uma fábrica de cerâmica, tornando-se reconhecida ceramista naquele país.

Retorna ao Brasil em 1990, expondo no Museu de Arte da Pampulha – MAP a mostra Jeanne Milde, Zina Aita: 90 Anos. Mademoiselle Milde foi uma escultora modernista belga, que morou no Brasil e organizou a exposição.

Zina Aita trouxe e foi admirada pela cena de sua obra: Trabalhadores calçando uma rua, feita com o uso da Técnica Divisionista. O divisionismo também designado por cromoluminarismo é uma teoria ou um estilo de pintura neoimpressionista, que separa as cores em pequenos pontos ou pinceladas de cor pura.

A aplicação destes pontos na tela leva o observador a misturar visualmente as cores e, assim, “construir” a pintura, segundo seu próprio manancial de referências artísticas.

 Outra tela que chamou a atenção de todos foi Homens Trabalhando [A Sombra]. Também é identificada no acervo exposto em 1922 uma aquarela com um Nu Feminino, que revelava seu talento de desenhista e sua afinidade com a produção de Degas (1834–1917), um pintor, gravurista, escultor e fotógrafo francês, conhecido sobretudo pela sua visão particular do mundo do balé, sabendo captar as mais belas poses e sutis cenários da secular dança.

A pintora traz também em seus traços influência da obra de Gustav Klint, pintor austríaco renomado que se associava ao simbolismo, destacou-se dentro do movimento Art Nouveau e foi um dos fundadores do movimento que recusava a tradição acadêmica nas artes. 

Saudamos essa brilhante pintora e desejamos que, nos próximos eventos e movimentos, a presença feminina tenha maior destaque, em telas, em e em destacada presença.

Salve Zina Aita!

Iêda Vilas-Bôas – Escritora. Conselheira in memoriam da . Partiu deste mundo em 04/08/22. Esta matéria faz parte do imenso legado de conhecimento  que deixou para as gerações presentes e futuras. 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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