Obras federais podem impactar até 397 aldeias indígenas

Obras federais podem impactar até 397 aldeias .

Número representa 66% das do . Segundo o Indígenas no Brasil 2017-2022” publicado pelo Instituto Socioambiental (ISA), 397 dos 599 territórios indígenas do Brasil podem ser impactados por futuras obras do governo federal, entre dutos, ferrovias e usinas.

Por Mídia Ninja

“A construção de uma rodovia, por exemplo, pode ter seu impacto social e ambiental ampliado se houver a construção, na mesma área de influência, de uma usina hidrelétrica ou de um porto destinado à exportação de grãos”, escreveu Antônio Oviedo, autor da pesquisa.

Fonte: ANEEL (2019), DNIT (2019), EPL (2018), (ANTAQ (2013) e EPE (2015).

Ainda segundo a pesquisa, as flexibilizações ocorridas nas leis ambientais durante o governo Bolsonaro ajudaram a agravar a situação, visto que as terras antes protegidas e preservadas tornaram-se exploradas e muitas vezes invadidas por grileiros, o que aumentou a fragilidade dos que, atualmente, se encontram muito vulneráveis.

“A presença de invasores e atividades ilegais no interior das TIs oferece um risco real às populações indígenas e inviabiliza a adoção de condicionantes ambientais para prevenir o desmatamento e as mudanças climáticas” alerta Oviedo. Diante desse cenário, fica quase impossível o Brasil cumprir acordos internacionais sobre preservação ambiental, e .

O levantamento do ISA considerou empreendimentos registrados na ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), na EPL (Empresa de Planejamento e Logística), na ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) e no EPE (Empresa de Pesquisa Energética).

Diante desse cenário, é necessário acompanhar os próximos passos do novo governo, já que, segundo Oviedo, não há nos bancos de dados informações sobre o andamento dos empreendimentos, o que não nos deixa saber também quais obras irão sair do papel e quais serão prioridades para .

Fonte: Mídia Ninja. Foto: Elena Romero. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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