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Célia Regina das Neves: referência na luta extrativista

Célia Regina das Neves: referência na luta extrativista

Originária da Resex Marinha Mãe Grande de Curuçá, no estado do Pará, Célia Regina das Neves iniciou sua militância no CNS em 2003, onde ocupou a Secretaria da Mulher Extrativista. Atualmente, Célia é a secretária da mulher da Confederação das Reservas Extrativistas Marinhas – CONFREM.

Por Marcos Jorge Dias 

Em 2007, durante a V Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs), ocorrida no dia em 17 de novembro, em Belém-PA, Célia assumiu oficialmente a suplência do líder extrativista Pedro Ramos na representação do CNS. Era mais um posto galgado numa longa trajetória de lutas e contribuições com o CNS. 

À época, a reunião teve como pauta a consolidação de políticas que pudessem garantir direitos, reduzir desigualdades sociais e, principalmente, discutir as dificuldades enfrentadas pelos PCTs nas questões previdenciárias, aposentadoria, licença maternidade, direitos das mulheres negras, quilombolas, ribeirinhas, quebradeiras de coco… mulheres vivendo em condições de extrema dificuldades, que tinham pouca ou quase nenhuma visibilidade social.

Ferrenha defensora das comunidades extrativistas, Célia denunciou a empresa Carbonext que queria instalar um projeto de Redd+ sem diálogo transparente com as comunidades das Resex do Pará. “Eles só discutem uma cláusula com a comunidade que é de 50% para a comunidade, 50% para a empresa, mas porcentagem do quê? Eles não dizem.”

O caso da Resex Mãe Grande é mais um exemplo de como os projetos de compensação de carbono se mostram, antes mesmo de instalarem-se, criando um problema para as comunidades, gerando divisão e conflitos em processos comunitários desenvolvidos durante décadas e que já enfrentaram muitas lutas para instituir-se a primeira reserva extrativista no Pará. 

As denúncias de projetos que buscam explorar a sociobiodiversidade da região se avolumam. “É preciso valorizar e defender os modos de vida das comunidades que secularmente vivem naquela região com a natureza, sendo parte da riqueza cultural e de vida que a Amazônia transborda. As propostas que tentam subverter esse jeito de viver, querem transformar os povos da floresta em assalariados, deixando seus modos de vida de lado e incorporando a lógica do capital em suas vidas,” denuncia Célia Regina Neves, liderança da Resex Mãe Grande Curuçá.

1608260656039Marcos Jorge DiasEscritor. Estudante de Jornalismo. Conselheiro da Revista Xapuri. Foto: Divulgaçãao/ Cícero Pedrosa Neto/Agência Pública.

 
 
 
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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