UNB: Refresco para os bichos do Cerrado

UNB: Refresco para os bichos do

Pesquisas desenvolvidas na UnB determinam quais são os ambientes propícios para a produção animal em clima tropical e seco

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Famoso pelos longos períodos de seca, o Cerrado, nome dado à savana brasileira, é o segundo maior bioma do país. Com uma extensão de 197 milhões de hectares, a região é rica em biodiversidade, com quase mil espécies de aves e mamíferos. Estudar como o clima afeta a de tantos bichos é responsabilidade da chamada biometeorologia animal, principal linha de pesquisa do BioCer. Criado em 2019 pela professora Sheila Tavares Nascimento, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) da UnB, o grupo tem como objetivo proporcionar vida melhor à fauna do Cerrado. “A gente divulga informações para que produtores e técnicos interfiram de forma positiva sobre o bem-estar dos animais criados em clima tropical”, afirma Sheila, que também é a coordenadora do projeto.

Doutora em Zootecnia, ela explica como surgiu a ideia de criar o grupo em 2016, ano em que ingressou na UnB: “Como o Brasil é um país com enorme extensão territorial, e o Centro-Oeste, uma região de destaque na produção animal, é fundamental o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao conforto de animais”, afirma Sheila, que, em 2017, ganhou prêmio da Brasileira de Biometeorologia por estudo sobre equilíbrio térmico de animais.

A partir dos conhecimentos fornecidos pelo BioCer, produtores conseguem proporcionar ambientes mais propícios para cada espécie. Por exemplo, com as análises divulgadas nas pesquisas, é possível entender qual o sombreamento adequado para certo bicho, a área mínima que ele precisa ocupar ou se determinada temperatura pode causar para o animal.

 O efeito na indústria alimentícia é outro aspecto levado em conta, pois o tratamento correto de um animal de criação influencia na qualidade dos produtos que vão parar nos supermercados: desde a espessura da casca de um ovo de galinha até a textura da carne bovina.

Projeto multidisciplinar

O grupo, que possui outras linhas de pesquisa (comportamento animal, sistemas ao ar livre e bioclimatologia), não foca em uma espécie em particular, já que o clima afeta toda a fauna. Atualmente, no trabalho de campo realizado na Fazenda Água Limpa (FAL/UnB), trabalham com frangos de corte, codornas, bovinos e suínos, entre outros. “Esse é o motivo por eu ser tão entusiasta da área, pois posso trabalhar com qualquer espécie animal”, diz a professora.

O trabalho é multidisciplinar: professores e alunos de cursos e instituições diferentes participam do projeto. Além da UnB, há pesquisadores da Instituto Federal de Brasília (IFBUniversidade Estadual Paulista (UNESP) de Jaboticabal, em ; da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), em ; do , no Distrito Federal, e da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná.

Como o grupo já possui membros de diversos estados e regiões, o próximo passo é buscar parcerias fora do Brasil, o que converge também com a de internacionalização da UnB. Para a coordenadora do projeto, a necessidade de procurar e manter parcerias é reflexo da atual crise econômica pela qual o país passa, e também a maneira mais eficiente de se fazer ciência: com conhecimentos e experiências diversos.

“Como o Brasil é um país com enorme extensão territorial, e o Centro-Oeste, uma região de destaque na produção animal, é fundamental o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao conforto de animais.”

 

Sheila Tavares Nascimento
Professora da da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB
 

Há também, no âmbito do BioCer, pesquisas realizadas por estudantes, de graduandos a doutorandos. Para a professora Sheila, as novas ideias trazidas pelos alunos e a vontade de aprender são a “engrenagem do processo”.  Além de contribuir com o bem-estar dos animais, o projeto proporciona uma experiência plural aos membros, com pesquisas de campo, produção de artigos científicos e a realização de cursos teóricos e práticos.

Amanda Azevedo, estudante de Agronomia, conheceu o grupo quando fez um minicurso realizado no Centro de Manejo de Ovinos (CMO), da FAL. “Sempre me interessei pela área de bem-estar e ambiência, mas não sabia que essa linha de pesquisa era desenvolvida na UnB”, afirma Amanda. Ela diz se sentir realizada com o trabalho desenvolvido pelo grupo, pois mostra como são importantes os estudos sobre a produção de alimentos, principalmente ao se considerar o crescimento da população mundial.

Professores e alunos de graduação e pós-graduação de instituições e cursos diferentes participam do projeto da UnB (Foto: Arquivo pessoal/BioCer)

Professores e alunos de graduação e pós-graduação de instituições e cursos diferentes participam do projeto da UnB (Foto: Arquivo pessoal/BioCer)

Fonte: Projeto Colabora 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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