Espécie exótica, endêmica ou invasora?

Espécie exótica, endêmica ou invasora? Se você não souber a diferença, a gente explica!

 
Muito se tem falado nos últimos dias sobre a história da serpente naja, que picou um estudante em Brasília, que criava essa espécie exótica, original da Ásia, que foi trazida de forma ilegal para o Brasil (leia reportagem completa sobre o assunto aqui).
Mas você sabe qual a diferença entre esses termos usados na biologia? Se ainda não, explicamos direitinho abaixo.

Espécies endêmicas

Também chamadas de nativas, as espécies endêmicas são animais ou plantas que, por suas próprias características, são encontradas somente em uma determinada área ou região. O endemismo é causado por barreiras físicas, climáticas e biológicas, que delimitam a distribuição de uma espécie.

Ilhas, rios, arquipélagos, cadeias de montanhas, por exemplo, são capazes de criar essas barreiras, favorecendo o surgimento das espécies endêmicas. A ilha de Madagascar, na África, e a Austrália, na Oceania, são exemplos de regiões de alto grau de endemismo por somarem inúmeras espécies que só podem ser encontradas nesses lugares.
A Mata Atlântica é outro exemplo: das quase 20 mil espécies de plantas, oito mil são espécies endêmicas, ou seja, encontradas apenas nesse bioma.

Duas espécies podem ser exemplos de endemismo entre os estados de São Paulo e Paraná. O -de-cara-roxa, Amazona brasiliensis, limitado a uma estreita faixa de terras baixas na região costeira, com uma população constituída de cerca de nove mil indivíduos, e o mico-leão-de-cara-preta, Leontophitecus caissara, também ocorrente nesta região, mas em área ainda mais restrita.

Ele está na lista dos 25 primatas do mais ameaçados de extinção.
Existem apenas cerca de 400 micos distribuídos na área do Parque Nacional de Superagui, ao norte do litoral paranaense, segundo o Instituto de da (ICMBio).

Espécies exóticas

Espécies exóticas correspondem a animais ou vegetais que são levados a locais onde não são naturalmente encontrados. Segundo o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), atual Instituto Água e Terra (IAT), essas espécies chegam nesses lugares depois de serem transportadas e introduzidas, na maioria das vezes, intencional ou acidentalmente pelo ser humano.
A Convenção sobre Biológica define como “exótica” toda espécie que se encontra fora de sua área de distribuição natural, isto é, que não é originária de um determinado local.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), em virtude do potencial invasor e da capacidade de excluir as espécies nativas, diretamente ou pela competição por recursos, as espécies exóticas podem transformar a estrutura e a composição dos ecossistemas, destruindo suas características particulares.

São muito diversificadas as exóticas que existem espalhadas pelo mundo, uma vez que a própria domesticação de espécies animais e vegetais – e sua introdução em outras regiões – é um fenômeno de ampliação da distribuição de espécies exóticas, como a maioria das frutas que consumimos, além de grãos e sementes em geral, por exemplo.
Muitas plantas ornamentais são exóticas também. 

A diferença dessas espécies em relação às exóticas invasoras é que elas não se dispersam de maneira independente, sendo necessária uma ação humana para seu plantio e propagação.
Você sabia, aliás, que o conhecido “beijinho” (Impatiens walleriana) – na foto abaixo, que já foi muito mais presente na Estrada da Graciosa, no Paraná, que leva as pessoas até o município de Morretes – é uma espécie exótica?

Espécie exótica, endêmica ou invasora? Se você não souber a diferença, a gente explica!

Espécies invasoras

Essas espécies estão entre as principais causas diretas de perda de biodiversidade e extinção de espécies, juntamente com mudanças climáticas, redução de habitat, desenfreada da natureza e a poluição.

Espécie exótica invasora ou, simplesmente, invasora, é aquela que prolifera sem controle – não necessariamente pela ação do ser humano – e passa a representar ameaça para as nativas e para o equilíbrio dos ecossistemas. Dessa forma, produz sérios impactos ambientais, econômicos, sociais e culturais.

As exóticas invasoras são consideradas a segunda maior causa da perda de biodiversidade no mundo. Um dos exemplos mais emblemáticos é o pinus, um gênero que ocorre no Hemisfério Norte e que foi amplamente introduzido no Sul do Brasil para compor as chamadas plantações de árvores ou “reflorestamentos”.

São grandes monoculturas para a produção de madeira e de celulose. As sementes das espécies de pinus são facilmente dispersas pelo e contaminam áreas no entorno dessas plantações de maneira generalizada.

Os pouquíssimos remanescentes de Campos Naturais no interior do Paraná, em grande parte, estão tomados por exemplares de pinus, alterando de maneira drástica a paisagem natural e criando ambientes impróprios para as espécies nativas que ocorrem nesse ecossistema.

No caso da fauna, há muitos casos no Brasil. O mexilhão-dourado, vindo de outros continentes no casco e água de lastro de navios, hoje está presente em muitos rios nacionais. Muitas espécies de são exóticas – como a carpa e a tilápia, por exemplo. Elas tomam espaço e ameaçam de extinção as espécies nativas.

A lebre-européia e o javali-europeu são casos de mamíferos introduzidos em nosso território, também responsáveis por prejuízos, inclusive econômicos, na agricultura.
*Texto publicado originalmente em 11/06/20 no jornal online e gratuito do Observatório de e Conservação

 
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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