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Movimento Negro Unificado: 42 anos de luta e resistência

Unificado: 42 anos de luta e resistência

Por Iêda Leal

Já se vão 42 anos desde que, em 7 de julho de 1978, as escadarias do Teatro Municipal de São Paulo foram ocupadas por um ato de lançamento público do Movimento Negro Unificado (MNU).

Em plena , o MNU foi criado em reação à tortura e ao assassinato pela polícia militar do jovem negro Robson Luiz Ferreira da Luz, que havia sido preso, acusado de roubar frutas numa feira em Saulo Paulo, e ao assassinato do operário Newton Lourenço, morto pela polícia na Lapa, no Rio de Janeiro.  Os militantes protestaram, também, contra a discriminação racial do Clube Regatas do Tietê a quatro jovens negros jogadores de vôlei que foram impedidos de entrar no clube.

No primeiro ato público, Abdias Nascimento, Hamilton Cardoso, Lélia Gonzalez, Milton Barbosa, Lenny Blue, Neusa Pereira e José Adão de Oliveira – fundadores (as) do MNU –, com milhares de negros e negras, gritavam à nação brasileira: BASTA DE !

No dia seguinte, os jornais estampavam manchetes como “Os negros estão nas ruas” (J. Versus) e “Negros protestam em praça pública” (Folha). O ato foi uma declaração contra as péssimas condições de vida da população negra e de denúncia aos crimes raciais. A manifestação foi um marco importante da história recente da luta do negro no país, que teve início na época do Brasil colonial com as insurgências e revoltas de toda ordem promovidas pelos africanos escravizados.  No fim dos anos 1970, a criação do MNU, entidade de caráter nacional, abalou a estrutura da falsa democracia racial da sociedade brasileira.

Em carta aberta, lida no ato de lançamento, o MNU declarou importantes posições. “Hoje estamos nas ruas numa campanha de denúncia! Campanha contra a discriminação racial, contra a opressão policial, contra o desemprego e a marginalização. Estamos nas ruas para denunciar as péssimas condições de vida da Comunidade Negra. Hoje é um dia histórico. Um novo dia começa a surgir para o negro! Estamos saindo das salas de reuniões, das salas de conferências e estamos indo para as ruas. Um novo passo foi dado contra o racismo”, dizia a carta aberta do MNU, datada de 1978 e publicada no livro Lugar de Negro, de Lélia Gonzalez e Carlos Hasenbalg.

Desde sua fundação, em 1978, o MNU segue sua trajetória de luta, articulando o povo negro e conscientizando a sociedade brasileira para reagir contra o racismo e a desigualdade racial. Muitas batalhas foram travadas para defender vidas negras que, arrancadas da África e numa total e cruel desumanização, enfrentaram 372 anos de escravidão e, depois, lançados à própria sorte, nesses 132 anos de falsa abolição.  São 504 anos de opressão, sem que o Estado Brasileiro promovesse a justa reparação ao povo negro.

Contra esse cotidiano de relações raciais tão desiguais, o MNU travou e trava batalhas fundamentais para a vida de negros e negras. Ajudou a derrubar o da democracia racial; promoveu a luta contra o extermínio da juventude negra, a defesa das , o fortalecimento da identidade negra,  das  comunidades de matrizes africanas;  lutou pela criminalização do racismo (Lei Caó);  defendeu o  estudo da história da África e do povo negro nas escolas (Lei 10.639/03), o direito à terra das comunidades ; lutou contra a policial, lutou por cotas  raciais (Lei Nº 12.711/12),  por de da população negra; denunciou e denuncia a discriminação no mercado de trabalho, o ataque às religiões de matriz africana;  defende condições dignas de vida no campo, na cidade e nas florestas para a população negra; luta em defesa da  comunidade LGBTQI+; combate a violência contra a mulher negra. E, neste momento, o MNU se levanta contra o governo de extrema direita e racista que retira direitos e mantém uma política genocida contra a população negra.

O MNU não se retira da luta enquanto houver racismo. Segue em marcha e resistindo e, a cada ato de racismo, uma nova convocação: REAJA À VIOLÊNCIA RACIAL! Uma chamada à nação. Exatamente, também, para quem, no conforto de sua branquitude, só consegue reagir ao racismo – à morte – para além das fronteiras.  Aqueles que só enxergam o racismo debaixo dos pés (malditos) com raízes na KKK (Ku Klux Klan), mas são incapazes de se manifestarem contra o que ocorre debaixo do nariz, pelos pés e mãos dos racistas daqui.

No Brasil, um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos, policiais que deveriam proteger arrastam mulheres para a morte pelo assalto, metralham negros nas ruas com 80 tiros. Na calada da noite, metralham nossa jovem negra liderança, atiram para matar em crianças dentro de suas casas, conduzem sorrindo crianças à morte, apertam o botão do elevador. E, neste momento, o povo negro é o que mais morre pela Covid-19, situação que reflete as péssimas condições de moradia e a falta de acesso ao atendimento à saúde a que está submetida a população negra.

O MNU, nos seus 42 anos, reafirma o grito da sua Carta de Princípios: POR UMA AUTÊNTICA DEMOCRACIA RACIAL! PELA LIBERTAÇÃO DO POVO NEGRO! É MNU na resistência!

LOGO MNU ILLUSTRATOR

WhatsApp Image 2020 08 12 at 16.30.12Iêda Leal – Coordenadora Nacional do MNU. Tesoureira do SINTEGO. Manifesto lançado pelo MNU em 21 de março de 2020.

 

 

 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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