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A luta pela terra cura as pessoas Por Gilvander Moreira/via Jornalistas Livres Para os Sem Terra do Acampamento Dom Luciano Mendes, hoje assent

A luta pela terra cura as pessoas

A luta pela terra cura as pessoas

Por Gilvander Moreira/via Jornalistas Livres

Para os Sem Terra do Acampamento Dom Luciano Mendes, hoje assentados no Assentamento Dom Luciano Mendes, no município de Salto da Divisa, no Baixo Jequitinhonha, MG, a ignorância e o coronelismo impediram o início da luta pela terra em Salto da Divisa e percebem que a chegada das Irmãs Dominicanas, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do MST1 trazendo conhecimento e apoio foi o que desencadeou o processo de luta pela terra no município. Como se deu isso?

Em uma Roda de Conversa, no Acampamento Dom Luciano Mendes, dia 21 de setembro de 2014, Aulerino Lopes do Nascimento, um abnegado lutador pela terra explica: “Foi apertando de lá pra cá. De Belo Horizonte pra cá. Foram ocupando, ocupando, tombando de lá pra cá, até chegar aqui. Eu era acampado em um acampamento do MST em Belmonte, na Bahia. Eu liguei o rádio e ouvi uma reportagem falando de um acampamento em Salto da Divisa. Eu resolvi largar o acampamento lá e vir aqui para o Salto da Divisa. Várias pessoas falaram para eu não vir. Diziam que eu iriam me matar, pois os coronéis aqui eram valentes. Mas eu já conhecia o Salto da Divisa e o povo da região. Eu sabia que a terra aqui era boa. Chegou a notícia que tinha uma mulherzinha baixinha, que era um trem doido de coragem, estava cadastrando o povo. Então foi assim: essa pessoa pequena e magrinha veio chegando, contando umas coisas novas e o povo foi deixando de ser besta como naquele tempo. Assim o conhecimento foi chegando, foi encostando e as pessoas passaram a acreditar devagarinho. É assim, três pessoas têm medo de ir ali quebrar aquele pé de manga (aponta para a mangueira), mas se juntar seis pessoas, todas perdem o medo e vão. Hoje, eles ameaçam, mas eles têm medo também.”

A ‘mulherzinha baixinha’ é irmã Geraldinha (Geralda Magela da Fonseca), agente de pastoral da CPT, a freira que desde fevereiro de 1992 atua pastoralmente em Salto da Divisa junto aos camponeses expropriados e superexplorados. Aureliano revela que o início da luta pela terra em Salto da Divisa se deu em um processo que envolveu: a) ouvir notícias de ocupações de terra em muitas partes do país; b) conhecer que ‘a terra é boa’; c) conhecer bem a realidade local; d) ter o apoio e o acompanhamento de alguém com autoridade moral ou de um movimento popular idôneo para acompanhar o povo, no caso irmã Geraldinha; e) reunir os sem-terra, pois a força dos oprimidos e explorados está no número. Quando se reúnem, se organizam para lutar coletivamente fazem coisas que sozinhos, ou poucos, não conseguiriam fazê-las por medo e falta de coragem.

Camponesa Sem Terra de primeira hora do Acampamento Dom Luciano Mendes, Dona Maria Francisca Gonçalves de Souza adotou uma criança de cinco meses que estava quase morrendo: o Daniel Gonçalves de Souza, filho do irmão dela. Daniel, criança com várias deficiências – não mexia direito, todo entrevado – desde os primeiros meses de vida. A médica pediatra após consultá-lo afirmou que o menino iria morrer no acampamento. Mas foi decisivo para o resgate da saúde da criança: o cuidado, a dedicação e o amor dispensados por dona Maria à criança, levando-o para o rio Jequitinhonha, que passa ao lado do acampamento e colocando-o para brincar na areia, sapatear nas águas e na areia do rio. “Assim, o menino se recuperou e está hoje andando e correndo pra todo lado. Vai para a escola e até joga bola. Daniel foi salvo aqui no acampamento Dom Luciano Mendes”, comemorou irmã Geraldinha dia 21/9/2014. Eis um exemplo de que a luta pela terra cura as pessoas. Resgatar a saúde é uma das dimensões da pedagogia de emancipação humana. O filho de dona Cleonice, no acampamento Dom Luciano Mendes, também se recuperou do vício das drogas. José Batata se libertou do alcoolismo. O Mardone, da Ocupação-Comunidade Dandara, em Belo Horizonte, chegou à Dandara andando de muletas e começou a ser mestre de obra amparando-se nas muletas para construir o Centro Comunitário prof. Fábio Alves, da Dandara. A vida na Dandara, com horta no quintal, com a amizade e a solidariedade de todos, contribuiu para que ele, depois de um ano, largasse as muletas, após passar vários meses em um acampamento do MST em Esmeralda, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde tomava banho no rio e fazia hidroginástica.

A luta pela terra, na experiência de acampamento, tem o poder de curar e resgatar a saúde das pessoas, além de resgatar as relações humanas quebradas. Na Roda de Conversa, a Sem Terra, hoje assentada no Assentamento Dom Luciano Mendes Adenilza Soares Rodrigues disse com alegria: “Quando eu cheguei aqui, eu dependia de remédio para conseguir dormir. Eu sofria insônia e depressão. Cheguei aqui quase morta. Eu renasci aqui no acampamento Dom Luciano Mendes, em Salto da Divisa. Minha saúde melhorou aqui. Tenho três filhos, mas um não mora comigo. Tenho três enteados. Um dos meus filhos vivia com bronquite lá na cidade. Depois que chegou aqui no acampamento, meu filho vive brincando na terra e está curado da bronquite. Não precisei mais levar ele no hospital e tomar aquele monte de xarope.”

O acampamento gera saúde também no povo acampado, conforme nos relata Cleonice dos Santos Silva Souza, Sem Terra destemida: “É muito raro alguém aqui do acampamento Dom Luciano precisar ir ao hospital. Nosso melhor remédio aqui é a alimentação saudável, o ambiente de paz e tranquilidade e a nossa convivência na amizade”. Na luta pela terra vários processos emancipatórios se desencadeiam, um deles é o resgate da saúde das pessoas. “O bem-estar começa pela alma, pelo psicológico”, nos disse a Sem Terra Daniela Rodrigues Oliveira, do Acampamento Dom Luciano. “Aqui, nós comemos o que plantamos. Nosso alimento é saudável, sem agrotóxico. Nossas verduras têm gosto. As verduras lá da cidade nem gosto têm mais”, complementou Cleonice Silva. “Aqui temos saúde, porque temos alimentação saudável, ar livre, sossego, sono tranquilo, trabalho coletivo e prazeroso, convivência na amizade, tudo isso ajuda para a gente manter nossa saúde”, nos disse Aldemir Silva Pinto. “Tem coisas que lá na cidade tem que aqui no acampamento não tem. Aqui tem menos, mas tem o melhor”, pondera Ozorino Pires.

Diante do exposto, conclui-se, sem sombra de dúvidas, que da mãe terra vêm a cura e o equilíbrio do corpo, da mente e da alma, saúde plena. A terra, sagrada, é direito de todos os filhos e filhas, criados à imagem e semelhança de Deus; é direito de toda a criação; e a luta pela terra se faz pedagogia de emancipação humana!

10/5/2022

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 – MRV tem terrenos demais em Betim/MG. Injusto despejar 111 famílias da Ocupação Pingo D’água. Vídeo 2

2 – Marcha do Povo da Ocupação Pingo D’água, Betim/MG, até MP/MG: luta por moradia. Despejo, NÃO Vídeo 1

3 – Despejo por especulação imobiliária? “Não serão despejados!” Quilombo Araújo, Betim, MG. Vídeo 3

4 – “Despejar Quilombo Araújo p doar terreno p empresário é racismo” Quilombo Araújo, Betim/MG. Vídeo 2

5 – Dep. Andreia de Jesus/DH-ALMG visita Quilombo Araújo, Betim, MG: “Despejo aqui é racismo!” Vídeo 1

6 – Manifesto CLAMOR da Ocupação Pingo D’água, Betim/MG.104 famílias, despejo pelo MRV? E Apoio. Vídeo 6

1 Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra – www.mst.org.br

1 Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG; colunista dos sites www.domtotal.com , www.brasildefatomg.com.br , www.revistaconsciencia.com , www.racismoambiental.net.br e outros. E-mail: gilvanderlm@gmail.com  – www.gilvander.org.br  – www.freigilvander.blogspot.com.br       –       www.twitter.com/gilvanderluis         – Facebook: Gilvander Moreira III

https://xapuri.info/elizabeth-teixeira-resistente-da-luta-camponesa/

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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