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A MÁCULA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

A MÁCULA NA HISTÓRIA BRASILEIRA

O golpe civil-militar de 1964 ficará para sempre como nódoa incrustada na história do Brasil.  Além da ruptura da ordem democrática, o que por si só é de gravidade ímpar, obstruiu a aplicação das chamadas Reformas de Base. 

Por Alberto Cantalice

O caráter reacionário e antinacional do golpe ficou claro com a apresentação da primeira lista de cassações do regime, bem como com a nomeação de sua equipe econômica onde pontificava Roberto Campos, conhecido como Bob Fields (pelo pró americanismo) e avô do atual presidente do Banco Central brasileiro, indicado pelo Capitão. Tudo a ver. 

A ação da “Vaca Fardada”, como era chamado o general Olímpio Mourão Filho, ao pôr as tropas nas ruas em Juiz de Fora, foi o corolário de uma conspiração que envolvia empresários, setores da Igreja, a Embaixada americana e parte dos generais egressos da antiga Força Expedicionária Brasileira, a FEB, cujo prócer maior era o general Castello Branco. 

O papel da UDN, União Democrática Nacional, e de setores do antigo PSD, Partido Social Democrático, principalmente entre fazendeiros como “vivandeiras de quartel”, e da imprensa foi determinante para criar a crise institucional que derivou na ruptura. 

AS CASSAÇÕES

Instaurado o golpe de Estado, seus perpetradores no dia 9 de abril de 1964 soltaram a primeira lista de inimigos do novo regime. Os 10 primeiros já davam uma dimensão do que adviria com a continuidade do golpismo. Eram eles: 1. Luis Carlos Prestes; 2. João Belchior Marques Goulart; 3. Jânio da Silva Quadros; 4. Miguel Arraes; 5. Darcy Ribeiro; 6. Waldir Pires; 8. General Luiz Gonzaga de Oliveira Leite; 9. General Sampson da Nóbrega Sampaio; 10. Leonel Brizola. 

Pela lista inicial percebe-se que o intuito era desmontar os setores democráticos nas Forças Armadas e quebrar a espinha dorsal do PTB e do PCB, setores que, pela presença nos sindicatos e nas demais organizações da sociedade civil, chamavam o povo para o apressamento da aplicação das Reformas de Base. 

A derrota histórica do povo brasileiro não foi uma derrota passageira. Foi o apagar da chama da democracia por longos 21 anos. 

Repito ser a ausência de uma justiça de transição, a exemplo das que ocorreram nos países sul-americanos como Argentina, Chile e Uruguai. A manutenção dessa verdadeira “espada de Dâmocles” sobre a democracia brasileira, o famigerado artigo 142 da Constituição de 1988, que mal interpretado – ou dolosamente interpretado –, coloca as Forças Armadas como uma espécie de Poder Moderador. O que é uma mentira. 

A falta de punição aos golpistas de 1964 não poderá se repetir agora. 

Os filhotes da ditadura que tentaram golpear a democracia tendo à frente o Capitão, alguns Chefes militares, empresários, policiais, entre outros, têm que ser severamente punidos. Não basta a captura das sardinhas. E sim, dos tubarões. 

Ditadura Nunca Mais! 

unnamed 1Alberto Cantalice Jornalista. Editor da Revista Focus Brasil. Foto: Arquivo Nacional

 
 
 
 
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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