A piranha

A piranha

Por Thiago de Mello

Quem me sabe morando na floresta amazônica, a primeira coisa que me pergunta é se não tenho medo de piranha, se piranha não ataca a gente. Respondo, sem faltar com a verdade, que gosto muito de piranha na brasa e tanta vez já nadei em água de piranha.

Mas o caboclo está cansado de saber que, em tempo de piracema para a desova, ela não gosta de que a gente se intrometa no caminho dela e dá mordidas, de leve: mas uma só, na qual se esbarra nadando.

Principalmente sabe que o cheiro de sangue atrai as bichinhas: animal ferido corre não o risco, mas a sina de ser devorado a dentadas por centenas de piranhas.

Daí a expressão boi de piranha: quando o rebanho vai atravessar o igarapé a nado, o dono sangra um boi, que é lançado na água antes de todos. As piranhas, endoidecidas pelo sangue, tomam conta do pobre, enquanto o resto do gado atravessa sem perigo.

Thiago de Mello – Poeta. Escritor, em “Amazonas: águas, pássaros, seres  e milagres”, Editora Salamandra, 1998.

 

 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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