Procura
Fechar esta caixa de pesquisa.

Brasil: um país negligenciado

Brasil: um país negligenciado

Descaso do Governo com os Povos

Precisamos sempre revisitar a nossa história, forjada à base do açoite, das torturas e da dilapidação das nossas riquezas. A escravidão foi a forma mais cruel e bárbara de servidão humana.

Ocorreu através do tráfico e da exploração da mão de obra de negros trazidos da África para o , que eram submetidos a maus tratos num grau de barbárie e desumanidade jamais vistos. O Brasil foi um dos últimos países a libertar os escravos.

Muitos indígenas também foram escravizados no começo da colonização portuguesa, entre os anos de 1540 a 1570, principalmente na extração do pau-brasil. O corte e transporte da madeira eram feitos por eles e como pagamento os colonizadores praticavam o escambo, a troca do trabalho por mercadorias de pouco valor como espelhos, aguardente, facões e perfumes.

Os índios eram capturados para trabalhar na lavoura já que os escravos africanos custavam caro demais para os senhores de engenho. A mão de obra também era utilizada em larga escala em combates para conter escravos africanos fugidos.

A escravidão indígena foi combatida pela igreja, mas os padres jesuítas, com a missão de catequizar os índios, contribuíram e muito para que estes mudassem seus hábitos – eram submetidos aos valores europeus, o que facilitava a dominação e a exploração.

A abolição indígena aconteceu em 1757, por meio de decreto do Marquês de Pombal, que na época ordenou também a expulsão dos jesuítas do Brasil.

Os povos indígenas sofrem há 500 anos. Desde a chegada dos colonizadores portugueses em suas terras tiveram os direitos roubados e foram negligenciados. Resgatar um pouco da história é imprescindível para entendermos e enfrentarmos o que está acontecendo hoje, quando vivemos num regime fascista, de extremo autoritarismo, com esfacelamento da soberania, dos direitos e da Democracia.

E por que chamá-los de “povos indígenas”? Porque a Constituição assim os reconhece e à sua organização social, seus costumes, crenças e tradições. As nações indígenas já estavam aqui quando da formação do nosso país. Eles são os povos originários e têm direito às terras que ocupam.

Compete à União demarcá-las e ao Governo protegê-los, mas, na atual conjuntura, grande parte dos conflitos são em
defesa da terra. Além de não terem os seus direitos garantidos, estão sendo violentamente atacados por madeireiros, garimpeiros, pelo e pela falta de política governamental. Aliás, trata-se da antipolítica ou política de confronto. Uma política genocida!

A propagação da foi muito rápida. Chegou em várias aldeias, principalmente porque não houve nenhuma medida eficaz por parte do governo para impedir o avanço da doença. De acordo com os dados da Plataforma de Monitoramento da Situação Indígena na Pandemia, o país registra 556 mortes e mais de 17.824 infectados. Num total de 256 povos indígenas, mais da metade deles, 144, foram atingidos pela Covid-19. Eles foram abandonados à própria sorte. A omissão e o  descaso proposital do governo caracterizam-se, com toda certeza, uma forma de genocídio a essa população que é muito mais suscetível e vulnerável às doenças.

Governo sanciona lei de proteção indígena com vetos O de lei 1142/2020, de autoria da deputada federal Rosa Neide (PT/MT), determina medidas de proteção aos povos indígenas durante a pandemia da Covid-19. Foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 21 de maio, pelo Senado em 16 de junho e no dia 08 de julho publicação no DO com cerca de 16 vetos pelo governo Bolsonaro.

Entre eles: “a garantia de água potável, alimentação, materiais de higiene, limpeza e desinfecção das aldeias; a oferta emergencial de leitos hospitalares e terapia intensiva; a compra de ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea; a obrigação de liberar verba emergencial para a e viabilizar o acesso de indígenas e quilombolas ao Auxílio Emergencial”.

Na prática, a atitude do governo ao vetar itens tão necessários coloca em risco de morte essa população. Como o presidente despreza as minorias, os povos indígenas e quilombolas, sua assessoria jurídica orientou esses vetos infames não por falta de recursos, mas por pura crueldade e ódio a esses povos.

O Tribunal de Contas da União (TCU) quer saber por que o Ministério da Saúde gastou menos de 29% da verba destinada pelo Congresso para o enfrentamento de ações específicas da pandemia. De um total de R$ 38,9 bilhões só R$ 11,5 foram pagos até final de junho.

Embora o Ministério negue essas afirmações dos relatórios do TCU, o governo terá que se explicar. Certamente se tivesse critério para a distribuição das verbas aos estados teria evitado milhares de mortes. Muitas vidas poderiam ter sido
salvas se houvesse, desde o início, empenho governamental na prevenção da pandemia através da quarentena e do isolamento social.

Campanhas em defesa da vida dos povos indígenas

Os povos indígenas têm dependido do apoio popular de ambientalistas, de campanhas para arrecadação de recursos e alimentos, como por exemplo: Campanha S.O.S Xavante – realizada por diversos artistas e integrantes de movimentos sociais para arrecadação de recursos para instalar  Unidades Avançadas de Saúde próxima às aldeias Xavante – cerca de duas vidas são perdidas a cada dia para a Covid-19; campanha para ajudar com doações os povos indígenas do – Apoinme, Copipe e Cojipe; campanha Povo Tapeba, no Ceará, impactados por casos de Covid-19 e cheias na região; comunidade indígena Wotchimaücü de Manaus (acw); Parentes indígenas do Baixo Tapajós; Guaranis Mbya da aldeia Jaraguá de ; campanha de arrecadação de alimentos para os povos indígenas do Sudeste, entre tantas outras
lançadas e/ou apoiadas pelo Conselho Missionário (CIMI).

Conforme dados do IBGE, o Brasil tem mais de sete mil localidades indígenas e um total de 896.917 indígenas. Uma população imensa, espalhada pelo país em várias aldeias e estados, mas extremamente vulnerável e com baixa imunidade para enfrentar a Covid-19.

Certamente este é mais um crime cometido pelo descaso desse governo contra os povos indígenas, contra os brasileiros. Além de não ter implementado nenhuma  política de combate e prevenção à pandemia, precisamos sempre destacar que o presidente do país desdenhou, negou, sonegou, mentiu e demitiu os dois ministros da Saúde.

Mantém até hoje um militar interino, que não é médico e nada entende de saúde para cumprir apenas as suas ordens – além dele, outros vinte militares ocupam cargos no Ministério. Daí a tragédia que vivemos. Estamos à beira de 90 mil mortes e pelo avanço da doença chegaremos a mais de 100 mil nos próximos dias. O governo brasileiro precisa ser responsabilizado pelas mortes de todos os povos indígenas em razão da sua vulnerabilidade e de terem sido abandonados.

Mas, também, por todas as mortes decorrentes da Covid-19, por não ter feito nada para impedi-las. Bolsonaro governa apostando na barbárie e no caos social.

#ForaGovernoBolsonaro

Fontes: CIMI Conselho Indigenista Missionário –  COVID-19.socioambiental.org.

[authorbox authorid=”” title=”Sobre a Autora”]

[smartslider3 slider=27]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

posts relacionados

REVISTA