CHARUTO OU MALFUF: DELÍCIA DA CULINÁRIA ÁRABE

Charuto ou Malfuf: Delícia da culinária árabe

O Charuto ou Malfuf é uma das grandes contribuições da culinária árabe para a gastronomia brasileira. Em minha família, de sírio-libanesa, a culinária foi o principal elo, a principal ligação com nossos antepassados, e o meio de preservar as tradições e a cultura através das gerações…

Por Ruth Gebrim França Teles

Os árabes chegaram ao no final do século XIX trazendo uma rica herança cultural. Aliada a essa cultura, veio a gastronomia de um milenar que se destaca pela tradição na cozinha. Em minha família, de origem sírio-libanesa, a culinária foi o principal elo, a principal ligação com nossos antepassados, e o meio de preservar as tradições e a cultura através das gerações.

Para mim, a libanesa representa, além de uma tradição a ser preservada e valorizada, um momento único e especial de reunir a família ao redor de uma mesa farta com as iguarias saborosas do árabe: kibe, grão-de-bico, arroz com lentilha, tabule, kafta, homus tahine, charuto, pão sírio… Das lembranças que nos trazem, dos nossos avós, tios e tias, e de nossos saudosos pais. Em cada palavra aqui escrita, recordo minha .

Um dos pratos mais apreciados por todos da minha família, especialmente para mim, o “wara eyneb”, ou “yabrak”, quer dizer folha de uva, prato completo e saboroso, o charuto, consumido em todo o mediterrâneo com pequenas variações na e no nome.

Uma curiosidade, o charuto de repolho é na verdade de origem grega, sendo depois incorporado à culinária mediterrânea (Turquia, Egito, Líbano, Síria).  Considerado de difícil preparo, embora com ingredientes comuns, pode ser servido quente ou frio, com uma peculiaridade: se feito no almoço, requentar para o jantar fica mais gostoso, com sabor mais acentuado. Acompanhado de coalhada síria, tabule, pão sírio, é divino.

Ao escrever sobre a culinária árabe, as recordações são tantas!!!  Vejo mamãe, seu lindo rosto vermelho com o calor do fogo, preparando as delícias da criançada. Sinto o cheiro, o sabor, seu sorriso e disposição à beira do fogão a lenha. E o forno?! Daqueles de barro para assar o pão sírio e outros quitutes.

Aprendi muito com duas mulheres incríveis, que moldaram meu caráter, marcaram minha : minha avó Jamila, matriarca libanesa, forte, decidida e amorosa. E minha amada Matilde, exemplo de dedicação, carinho, ; esposa, amiga, companheira inigualável. Vivi com ambas momentos únicos e inesquecíveis.

Partilho com vocês uma das primeiras receitas que aprendi com a minha avó, o “malfuf”, como ela dizia.

RECEITA DO MALFUF

INGREDIENTES

300 g de folha de uva ou 1 repolho médio (pode ser usada couve, ou acelga)

Recheio

2 xícaras (chá) cheias de arroz cru

300 g de carne moída (colocar um pouco menos que o arroz)

1 tomate maduro sem pele e sem semente, picadinho em cubos

hortelã, salsa, cebolinha, picadas, a gosto

2 colheres (sopa) de sal

1/3 de xicara (chá) de cebola picadinha ou ralada

1 colher (chá) de alho picadinho

4 colheres (sopa) de manteiga

suco de limão a gosto

1 colher (chá) de azeite

pimenta do reino moída na hora a gosto (opcional)

1 xícara de (chá) de molho de tomate tradicional

COMO FAZER

Prepare as folhas de uva (ou repolho), colocando algumas de cada vez em água fervente por 5 minutos. À parte, faça o recheio: num recipiente, ponha os ingredientes, arroz, carne, tomate, cebola, hortelã, alho, salsa, manteiga, cebolinha, sal, pimenta do reino. Misture bem sem amassar, para a carne não ficar dura.

Em uma tábua de carne, abra a folha de uva já escorrida, com o lado externo para cima. Coloque o recheio sobre ela (2 colheres de sopa cheias), como um croquete, em uma linha na horizontal, não muito na beirada. Dobre as duas laterais para dentro, onde está o recheio. Enrole de baixo para cima de modo que fique firme, sem apertar muito.

Forre uma panela grossa com as folhas de uva mais duras, ou meio rasgadas. Arrume os charutos em camadas, deixando-os bem juntos. Repita as camadas até acabar. Misture um pouco de sal e o molho de tomate na água, até cobrir os charutos.

Despeje o caldo do limão e o azeite. A última camada não deve ficar até a borda da panela, para evitar que o caldo derrame. Para os charutos não desmancharem, coloque um prato invertido ou uma tampa pouco menor que a panela com um peso por cima.

Cozinhe por uma hora, em fogo brando, tendo o cuidado de não deixar a água secar. O arroz deve ficar macio sem cozinhar demais. Retire um dos charutos de cima e prove. Se estiverem prontos, espere um pouco e vire os charutos numa travessa maior que a panela e enfeite a gosto.

Bom apetite!

Ruth Gebrim França Teles – Professora aposentada. Publicado originalmente em 13 de maio de 2021. 

 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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