Dinheiro por baixo e por cima
Do Alasca à Patagônia; de polares, temperados, equatoriais e tropicais; de taigas, pradarias, desertos, florestas, cerrado, e estepes; de rios, montanhas, planícies e planaltos; de povos originários e contemporâneos; de ricos e pobres – uma América somente, lindamente um bloco de terra continental de quase duas dezenas de milhares de quilômetros, mas rompido por um canal.
Por Antenor Pinheiro
O Canal do Panamá é este momento de fratura continental, liderado, financiado e administrado pelos sucessivos governos intervencionistas dos Estados Unidos. Os interesses geopolíticos e a ganância econômica ganharam forma quando a região ainda era território colombiano (1902), o que culminou com a proclamação da independência do Panamá (1903), resultado manipulado e forjado pelos EUA e as grandes corporações capitalistas que estimularam os movimentos separatistas daquele país com esta finalidade.
Consolidou-se a doutrina do big stick que transformou o país em protetorado dos EUA, mirou a parte sul do continente e ainda ameaça a Amazônia. Da cirurgia imposta ao solo, o corte profundo da conexão terrestre que juntava toda a América resultou no surgimento da Puente de las Americas (1962) – também obra estadunidense, por 42 anos, a única ligação rodoviária permanente entre as duas margens do canal. Agora o dinheiro passaria por baixo… e por cima!
Antenor Pinheiro – Geógrafo. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri. Foto: Agência Matarazzo.