Doutor da Borracha – Xapuri, Acre

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Doutor da Borracha – Xapuri, Acre
Na verdade, ja é município de Epitaciolândia, 15 km pra dentro do ramal que nesta sexta ( 19/11) era pura lama depois de mais de 24 h de chuva pesada. No fim do ramal, numa vila familiar de umas 5 – 6 casas, vive e trabalha o Dr. da Borracha.
 
Talvez você já tenha visto um de seus sapatos de borracha em Feiras de Artesanato pelo Brasil, em lojas-conceito no Rio ou São Paulo (eu já vi, na Casa Amarela) ou mesmo em Milão. Seringueiro,  o Sr. José Rodrigues é parceiro de um pesquisador da UNB que desenvolve técnicas para o trabalho da borracha.
 
Eles estão testando o armazenamento do látex para permitir escala na produção, desenvolveram um processo de “defumação pirolenhosa líquida” (nao me pergunte o que é) e Dr. da Borracha elaborou uma técnica própria para colar a borracha e fazer os sapatos.
 
O produto é tão fabuloso quanto a forma como ele descreve o processo, a vida a partir da seringa e a importancia da Amazônia para as pessoas. A Leide, liderança extrativista, nos mostra o molde de sapatos originais de borracha, usados pelos seringueiros.
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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