“E ENTÃO, QUE QUEREIS?”  

 “E então, que quereis?”

“Não estamos alegres, É certo, Mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?”

 Vladímir Maiakóvski 

Lula Foto Ricardo Stuckert Proner

Foto: Francisco Proner 

Fiz ranger as folhas de jornal

Abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

De cada fronteira distante

Subiu um cheiro de pólvora

Perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

Nada de novo há

No rugir das tempestades

Não estamos alegres,

É certo,

Mas também por que razão

Haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

É agitado.

As ameaças

E as guerras

Havemos de atravessá-las.

Rompê-las ao meio,

Cortando-as

Como uma quilha corta

As ondas.

Mayakovsky

Vladímir Maiakóvski nasceu e passou a infância na aldeia de Bagdádi, nos arredores de Kutaíssi (hoje Maiakóvski), na Geórgia – Rússia.

Lá cursou o ginásio e, após a morte súbita do pai, a família ficou na miséria e transferiu-se para Moscou, onde Vladímir continuou seus estudos.

Fortemente impressionado pelo movimento revolucionário russo e impregnado desde cedo de obras socialistas, ingressou aos quinze anos na facção bolchevique do Partido Social-Democrático Operário Russo.

Detido em duas ocasiões, foi solto por falta de provas, mas em 1909-1910 passou onze meses na prisão. Entrou na Escola de Belas Artes, onde se encontrou com David Burliuk, que foi o grande incentivador de sua iniciação poética.

Os dois amigos fizeram parte do grupo fundador do assim chamado cubo-futurismo russo, ao lado de Khlébnikov, Kamiênski e outros. Foram expulsos da Escola de Belas Artes.

Procurando difundir suas concepções artísticas, realizaram viagens pela Rússia. Após a Revolução de Outubro, todo o grupo manifestou sua adesão ao novo regime.

Durante a Guerra Civil, Maiakóvski se dedicou a desenhos e legendas para cartazes de propaganda e, no início da consolidação do novo Estado, exaltou campanhas sanitárias, fez publicidade de produtos diversos, etc.

Fundou em 1923 a revista LEF (de Liévi Front, Frente de Esquerda), que reuniu a “esquerda das artes”, isto é, os escritores e artistas que pretendiam aliar a forma revolucionária a um conteúdo de renovação social. Fez inúmeras viagens pelo país, aparecendo diante de vastos auditórios para os quais lia os seus versos. Viajou também pela Europa Ocidental, México e Estados Unidos.

Entrou frequentemente em choque com os “burocratas’’ e com os que pretendiam reduzir a poesia a fórmulas simplistas. Foi homem de grandes paixões, arrebatado e lírico, épico e satírico ao mesmo tempo. Suicidou-se com um tiro em 1930. Sua obra, profundamente revolucionária na forma e nas ideias que defendeu, apresenta-se coerente, original, veemente, una.

A linguagem que emprega é a do dia a dia, sem nenhuma consideração pela divisão em temas e vocábulos “poéticos” e “não-poéticos”, a par de uma constante elaboração, que vai desde a invenção vocabular até o inusitado arrojo das rimas. Ao mesmo tempo, o gosto pelo desmesurado, o hiperbólico, alia-se em sua poesia à dimensão crítico-satírica.

Criou longos poemas e quadras e dísticos que se gravam na memória; ensaios sobre a arte poética e artigos curtos de jornal; peças de forte sentido social e rápidas cenas sobre assuntos do dia; roteiros de cinema arrojados e fantasiosos e breves filmes de propaganda. Tem exercido influência profunda em todo o desenvolvimento da poesia russa moderna. (Boris Schnaiderman in “Poesia Russa Moderna”, Editora Brasiliense, 1985). 

Fonte da Biografia:  Releituras

Obs.: publicado originalmente em 28 de jan de 2018

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Vigília Lula Livre completou 457 dias de resistência contra a prisão do ex-presidente Lula – Ricardo Stuckert

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BRECHT: “NENHUMA RESPOSTA SENÃO A SUA!”

“Aos que hesitam, você diz: Nenhuma resposta, senão a sua”
Por Bertolt Brecht
Você diz:
Nossa causa vai mal.
A escuridão aumenta. As forças diminuem.
Agora, depois que trabalhamos por tanto tempo
Estamos em situação pior que no início.

Mas o inimigo está aí, mais forte do que nunca.
Sua força parece ter crescido.
Ficou com aparência de invencível.
Mas nós cometemos erros, não há como negar.
Nosso número se reduz.
Nossas palavras de ordem
Estão em desordem. O inimigo
Distorceu muitas de nossas palavras
Até ficarem irreconhecíveis.
Daquilo que dissemos, o que é agora falso:
Tudo ou alguma coisa?
Com quem contamos ainda?
Somos o que restou, lançados fora
Da corrente viva? Ficaremos para trás
Por ninguém é compreendido e
não há ninguém compreendendo?
Precisamos ter sorte?
Isto você pergunta. Não espere.
Nenhuma resposta senão a sua.
 
Bertolt Brecht – (1898 a 1956)
 

SOLIDARIEDADE: LULA MOBILIZA BILHÕES PARA O RS

Foto: Ricardo Stuckert
 
 
Bertolt Brecht (1898-1956) foi um dramaturgo, romancista e poeta alemão, criador do teatro épico anti-aristotélico. Sua obra fugia dos interesses da elite dominante, visava esclarecer as questões sociais da época.
Brecht foi um dos nomes mais influentes do teatro do século XX, não só pela criação de uma obra excepcional, mas também pelas inovações teóricas e práticas que introduziu.
Euger Berthold Friedrich Brecht (1898-1956) nasceu em Augsburg, no estado da Baviera, na Alemanha, no dia 10 de fevereiro de 1898. Começou a escrever ainda jovem, publicou seu primeiro texto em um jornal em 1914.
Interrompeu seus estudos de Medicina em Munique para servir como enfermeiro em um hospital durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

De volta à Munique, Brecht iniciou sua carreira teatral e literária. A paixão pelo teatro impulsionou a vida de Brecht. Sua obra teatral atravessou diversas fases que se distribuem segundo os locais de permanência do autor.
Nesse primeiro período, enquanto se encontrava na Baviera, escreveu peças que focalizavam os conflitos do indivíduo em relação ao meio social, são elas:

  • Tambores na Noite (1922)
  • Baal (1922)
  • Vida de Eduardo II da Inglaterra (1923)
  • Na Selva das Cidades (1924)

Em 1923, Bertolt Brecht casou-se com Marianne Zoff, com que teve uma filha.
Em 1924, Brecht mudou-se para Berlim, onde se engajou no Deutsches Theater e foi assistente dos diretores Max Reinhardt e Erwin Piscator.
Duas peças se destacaram como transição do expressionismo para o niilismo iconoclasta, são elas:

  • O Homem é um Homem (1927)
  • A Opera dos Três Vinténs (1928)

As obras são comédias satíricas, em parte musicadas, nas quais a crítica à sociedade burguesa é mais anárquica do que na fase anterior.
A “Ópera dos Três Vinténs”, que fez grande sucesso e tornou Brecht internacionalmente conhecido, foi criada com a colaboração do músico Kurt Weill.
Em 1929 Bertolt Brecht ingressou no Partido Independente Socialista. Nesse mesmo ano, surge “Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny”, também com música de Weill, que marcou definitivamente sua conversão ao teatro político."NENHUMA RESPOSTA SENÃO A SUA!"

O Poeta

A obra poética de Bertolt Brecht é menos conhecida que a obra teatral, mas não menos importante. Sua poesia está representada no “Livro de Devoção Caseira” (1927), de sua fase iconoclástica, e em “Poesias de Svendborg” (1939).
Brecht escreveu poemas líricos de forte ironia e sutileza emocional em que ele mesmo, o indivíduo Bertolt Brecht, ocupa o lugar principal. O mais famoso poema de Brecht é o autobiográfico “Do Pobre B.B”.

Bertolt Brecht faleceu em Berlim, Alemanha, de ataque cardíaco, no dia 15 de agosto de 1956.
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Yawa – Foto: Raimundo Facó

Frases de Bertolt Brecht

  • “Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso.”
  • “Perante um obstáculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva.”
  • “Inteligência não é não cometer erros, mas saber resolvê-los rapidamente.”
  • “Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem.”
  • “Em vez de serem apenas bons, esforcem-se para criar um estado de coisas que torne possível a bondade, em vez de serem apenas livres, esforcem-se para criar um estado de coisas que liberte a todos!”
 
Caliandra Marcelo Camargo Agencia Brasil
Uma Calliandra para Maiakóvsky
 
Caliandra Portal Embrapa
E uma Calliandra para Brecht 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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