Waiãpi: Estudantes têm vídeo no My World 360º

Waiãpi: Vídeo produzido por estudantes é selecionado para mostra My World 360º

Isolados desde o início da pandemia do novo coronavírus na comunidade Waiãpi, em Pedra Branca do Amapari, no Amapá, os estudantes Kauri Waiãpi, Motã Waiãpi, Kuripiri Waiãpi, o professor Aikyry Waiãpi e o diretor da escola indígena, Evilázio Ribas, ainda não sabem que o vídeo Moma’e jarã kõ jikuwaê’ã kõ (Os donos que não vemos) é hoje uma das histórias imersivas que compõem a mostra MY World 360º (Meu mundo 360 graus).
Conheça como foi feito o com 360 graus que conta como as entidades que cuidam da floresta são também consideradas donas do habitat da comunidade indígena.
Isolados desde o início da pandemia do novo coronavírus na comunidade Waiãpi, em Pedra Branca do Amapari, no Amapá, os estudantes Kauri Waiãpi, Motã Waiãpi, Kuripiri Waiãpi, o professor Aikyry Waiãpi e o diretor da escola indígena, Evilázio Ribas, ainda não sabem que o vídeo Moma’e jarã kõ jikuwaê’ã kõ (Os donos que não vemos) é hoje uma das histórias imersivas que compõem a mostra MY World 360º (Meu mundo 360 graus).
Criada em 2018, a MY World 360º é uma parceria da ONU com a Oculus (Facebook) e propõe a criação de histórias através de tecnologias imersivas, tratando de assuntos relevantes dentro das comunidades e os relacionando aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Atualmente, a mostra compila mais de 100 histórias, que são exibidas em encontros e eventos da ONU, incluindo agora o vídeo Os donos que não vemos.
Projeto Cineastas 360º – O vídeo produzido pelos estudantes da Escola Indígena Estadual Aramirã só se tornou realidade através do projeto Cineastas 360º, promovido pela ONG Recode. Também em parceria com a Oculus, a ONG estimula que alunos de ensino médio reflitam sobre os problemas de suas comunidades e há 25 anos trabalha com empoderamento digital, doando equipamentos de tecnologia imersiva e capacitando professores de escolas públicas.
Como usar esses equipamentos – headsets, tripés, smartphones, câmeras 360º, softwares e materiais didáticos -, e como eles podem contribuir para resolver questões na comunidade? Partindo dessa provocação, o projeto já produziu mais de 100 curtas em todo território brasileiro, revela Rafael Romão, especialista em educação audiovisual da Recode e responsável pedagógico do Cineastas 360º.
Os Donos Que Não Vemos – No segundo semestre de 2019, a Escola Indígena Estadual Aramirã foi uma das selecionadas para representar a região norte do país e o professor de Educação Intercultural Aikyry Waiãpi se deslocou até a sede da Recode no Rio de Janeiro para uma capacitação. Por conta da dinâmica da escola, Romão decidiu ajudar na finalização do projeto indo até a escola em Pedra Branca do Amapari, em vez de oferecer assistência remota, como nos outros projetos.
“Eles queriam difundir os saberes e a cultura Waiãpi”, conta Romão em entrevista ao Centro de das Nações Unidas para o (UNIC Rio). No filme rodado com tecnologia 360 graus, eles contam que as entidades “que cuidam” da floresta são também as “donas” de rios, igarapés, matas, animais – tudo o que integra o habitat da comunidade. E pedem o fim das queimadas na e da poluição das águas porque o dano ao meio ambiente afeta os povos visíveis (os Waiãpi) e os povos invisíveis (entidades donas de todo o ecossistema onde habitam).
“Para eles, todos os seres e os fenômenos possuem donos metafísicos. Se eles, por exemplo, exploram demais determinado rio, estariam ofendendo esse dono, que se vingaria deles. Eles têm essa relação temerária com a ”, explica o especialista. “A cosmologia Waiãpi é importante nesse sentido de respeito pelo meio ambiente. Eles têm uma cosmovisão que atravessa tudo, uma disposição, uma ética de se olhar para as coisas com outro olhar”, completa.
Vinculando sempre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável aos projetos, Romão explica que a dinâmica de abordagem dos objetivos acontece de maneira que se entenda como questões locais podem estar conectadas com o global. “Primeiro fazemos o vídeo e depois eles conectam com os ODS e percebem o quanto um problema local se vincula com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, diz.
O vídeo foi finalizado com Romão quando os estudantes se deslocaram até Brasília, para o evento nacional da Recode em 2019. Neste ano, a produção foi então selecionada para a mostra do MY World 360º, uma surpresa que os waiãpi só receberão quando saírem do isolamento da pandemia da COVID-19.
Assista ao vídeo aqui.
Datas internacionais – O dos jovens Waiãpi vai de encontro ao tema de 2020 do Dia Internacional da Juventude – lembrado em 12 de agosto -, que é “Engajamento da Juventude para Ação Global”. O mês de agosto também celebra o Dia Internacional dos Povos Indígenas no dia 9. O tema da data neste ano é “COVID-19 e a resiliência dos povos indígenas”, focando nas maneiras inovadoras pelas quais eles demonstram resiliência e força para enfrentar a pandemia mesmo ao confrontar graves ameaças à sua sobrevivência. Recentemente, as Nações Unidas em Colômbia, Brasil e Peru pediram um aumento nos esforços de apoio e resposta na região amazônica, à medida que a COVID-19 continua em alta na região, afetando centenas de milhares de pessoas indígenas
No dia 10 de agosto, haverá uma comemoração virtual do Dia Internacional dos Povos Indígenas, transmitida ao vivo (em inglês), das 10h às 11h na TV da ONU .
Fonte: ONU
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!