Favelas do Rio criam Comissão Popular da Verdade, contrariando general

Contrariando General, favelas do Rio criam Comissão Popular da Verdade

A população das favelas do Rio de Janeiro, conscientes do histórico de e abusos cometidos por policiais e militares ao longo das ocupações, se organiza de diversas formas para criar mecanismos para resistir ao autoritarismo e arbitrariedades impostos sobre eles.

O General Eduardo Villas Bôas havia reivindicado para os militares que realizam a intervenção federal no Rio de Janeiro a “garantia para agir sem o risco de surgir uma nova Comissão da verdade no ”. Entretanto, para a irritação do general, e apesar do desejo do governo Temer de garantir a impunidade aos militares, a população das comunidades já demonstrou que não aceitará os abusos de autoridade praticados pelos militares.

A Faferj (Federação das Associações das Favelas do do Rio de Janeiro) anunciou na terça-feira (27) a criação de uma Comissão Popular da Verdade para poder acompanhar as violações de realizados pelos militares. Outras lideranças de diversas comunidades cariocas também reivindicam um canal de diálogo com o interventor, general Braga Netto.

Já a ONG Redes da Maré se recusa a dialogar com o interventor e legitimar o seu poder, e irá entrar com uma representação no MPF (Ministério Público Federal) reivindicando a revogação da intervenção. Além disso também planeja o lançamento de um observatório da intervenção, uma iniciativa em conjunto com o Centro de Estudos de e (Cesec) da Cândido Mendes.

A busca por mecanismos de auto-organização dos moradores das comunidades revela o rechaço e a consciência, por parte daqueles que tem seu cotidiano mais diretamente impactado pelas operações das tropas, dos frequentes abusos e desrespeitos aos direitos mínimos de qualquer cidadão, como no caso do cerco e o impedimento da entrada e saída das favelas a menos que a população se submetesse a um fichamento pelos militares.

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Foto: Uol

ANOTE AÍ:

Fonte do e foto de capa desta  matéria: Redação

http://www.esquerdadiario.com.br/Contrariando-General-favelas-do-Rio-criam-Comissao-Popular-da-Verdade

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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