Galeano, Memória do Continente

Galeano, Memória do Continente

A memória guardará o que vale a pena. A memória sabe de mim mais do que eu;  e ela não perde o que merece ser salvo.

Por Pedro Tierra

Escreveu livros como a lava dos vulcões. Essa era sua tinta preferida. E com a infinita ternura com que miramos as criaturas sem defesa que o mundo se empenha em esconder… para ser solidário com elas. SAbia que a memória da pele e a memória da alma devem ser cultivadas como centelhas, nas noites escuras, para termos nas mãos com que acender madrugadas…

Nota da Redação: Num dia de hoje, um 13 de abril, no ano de 2015, o grande escritor uruguaio Eduardo Hugles Galeano, nascido em Montevidéu em 03 de setembro de 1940, partiu dos espaços deste mundo. Nossa homenagem, sempre, ao autor de tantas obras gigantescas, formadora de consciências de gerações e gerações. Seguiremos lendo as Memórias do Fogo, seguiremos refletindo sobre as pílulas de memória de “O Filho dos Dias.’

 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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