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Gleisi Hoffmann: 84 anos de voto feminino e a luta das mulheres

Gleisi Hoffmann: 84 anos de voto e a luta das

Em 3 de maio de 1933, as mulheres brasileiras participaram pela primeira vez de para cargos políticos como eleitoras e candidatas. Na ocasião, foram eleitos 253 homens e uma , a médica Carlota Pereira de Queiróz. Berta Lutz, uma das figuras mais significativas do feminismo e da educação no do século XX, ficou na suplência pelo Rio de Janeiro, então distrito federal. No mesmo ano, Antonieta de Barros também foi a primeira mulher negra a ser eleita para estadual, pelo de Santa Catarina.

Em 1932, ainda durante seu governo provisório, Getúlio Vargas assinou um decreto que criava um novo código eleitoral para o Brasil, instituindo a Justiça Eleitoral, que passaria a regulamentar as eleições no país a partir de então. No mesmo decreto, vem a conquista feminina com a definição de quem no Brasil estaria apto(a) a votar: “É eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma deste Código”.

Os direitos políticos das mulheres foram assentados em bases constitucionais só dois anos depois, em 1934, quando a Constituição do Estado Novo fora promulgada. Mas com o novo texto constitucional vieram algumas restrições ao sufrágio feminino universal, e o voto das mulheres passou a ser restrito àquelas que exerciam função pública remunerada. Só em 1965 a lei no Brasil também passou a declarar o voto feminino como obrigatório.

Mais de oito décadas depois do 3 de maio de 1933, as mulheres são 53% da população e 52% do eleitorado brasileiro, mas a nossa ocupação dos cargos eletivos ainda conta com obstáculos institucionais e culturais que limitam as opções e a participação das mulheres na e na vida cotidiana como um todo.

Hoje, as mulheres ocupam apenas 9,8% das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados; 13% das 81 vagas do Senado Federal, e o padrão se mantém no Brasil todo nas assembleias estaduais e nas câmaras municipais, onde a média de ocupação das mulheres é de 14%. Não menos importante é a questão da raça, já que mesmo nas péssimas condições de representatividade institucional a que estamos expostas, as mulheres brancas sempre levam vantagem eleitoral sobre as , elegendo-se, na maioria dos casos, duas vezes mais do que as mulheres pretas e pardas.

Isso significa que para enfrentar a questão da subrrepresentação das mulheres precisamos mudar o paradigma da política brasileira. Privilégios, regras que perpetuam exclusão, leis que não são cumpridas, uso de candidaturas laranjas, desencorajamento e tentativa de frear nosso empoderamento não podem ter mais guarida na sociedade.

Discursos públicos misóginos como aqueles que nos colocam como boas donas de casa, como sabedoras de preços de itens de supermercados são absolutamente inaceitáveis, ainda mais, vindo de figuras públicas, que deveriam ter o compromisso com a promoção da igualdade de gênero, se não por convicção, pelo menos por respeito a metade da população.

Mesmo as sugestões de que o Brasil precisa de um “marido” – como lamentavelmente afirmou o presidente ilegítimo Michel Temer – mostram como a ignorância e o preconceito operam juntos, já que o IBGE mostrou que quase metade das famílias brasileiras é chefiada por mulheres, que passam a cumprir jornadas duplas e até triplas. Elas são, portanto, o oposto do que queremos e, justamente por isso, sua desconstrução deve estar no centro da nossa atuação.

Desnaturalizar o machismo é difícil, mas exemplos não nos faltam de como a luta vale a pena. Seguimos.

Voto Feminino Brasil 247Foto: Brasil 247

ANOTE AÍ:

Gleisi Hoffmann é senadora da República e Líder do Partido dos no Senado Federal, e Juliana Moura Bueno, Cientista Política.

Fonte originária desta matéria: http://www.brasil247.com/

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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