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Kabengele Munanga

Kabengele Munanga, o antropólogo que desmistificou a democracia racial no

Professor recebe homenagens pela luta contra todas as formas de discriminação racial: “Todos os racismos são abomináveis e cada um faz as suas vítimas a seu modo. O brasileiro não é o pior, nem o melhor, apenas tem suas peculiaridades”

Por Lilian Milena – Jornal GGN

O professor dr Kabengele Munanga, antropólogo brasileiro-congolês, é uma das principais referências na questão do na sociedade brasileira. Seus estudos, realizados desde a década de 1970, foram responsáveis por romper a visão eurocêntrica da antropologia, repensar a participação dos negros na história do país e, ainda, consolidar os estudos preparatórios para a Constituição de 1988, no eixo que tange os Diretos Humanos e combate à toda a forma de racismo no Brasil.

Por conta desse engajamento, Munanga vem recebendo ao longo de sua vida diversos reconhecimentos. Em 2018, a Universidade de São Paulo concedeu a ele o Prêmio USP de .

O mais recente reconhecimento aconteceu neste 13 de maio, quando a Área de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da USP realizou um encontro para marcar também os 50 anos da assinatura, pelo Brasil, da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial.

Em entrevista ao GGN, Munanga comentou sobre a importante articulação da sociedade e movimentos civis para não permitir o retrocesso dos avanços já conquistados contra as diferentes desigualdades.

“A luta pela mudança, da transformação da sociedade, demora muito. Já tivemos no Brasil algumas conquistas, sobre a questão da igualdade entre branco, negro, indígenas e outros diferentes e isso foi luta de gerações do que vem desde Zumbi dos Palmares até agora”, explicou.

Kabengele defende ainda que o embate por justiça social não pode ser levada adiante apenas por meio do discurso.

“As palavras são importantes, mas a luta se faz com políticas e essas políticas estão sendo destruídas. A consciência está lá, o discurso está lá, mas não as , que estão sendo destruídas por uma conjuntura onde parece que não se entendeu”, nota o antropólogo em relação às posturas políticas do governo Bolsonaro.

“A gente se pergunta o que está por trás disso, porque a questão para mim não é ser de ou ser de , a questão importante é saber como se viver em uma sociedade que tem problemas, onde você deve construir políticas sociais”, destaca.

A grande preocupação do antropólogo é que, enquanto a formação e consolidação de políticas públicas de afirmação e combate às desigualdades partem de um processo de anos, a destruição desses mecanismos, pelo contrário, pode acontecer em um curto espaço de tempo. Em outras palavras, o que está em andamento no país é o desmonte de um processo de conquistas históricas.

“A luta pela liberdade não tem preço. A única saída é a população se mobilizar para defender seus direitos, para que esse retrocesso não aconteça mais e que possamos recuperar o que está sendo perdido rapidamente, construindo mais do que o que já foi feito”, concluiu.

Fonte:  Jornal GGN

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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