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Médico Maricas E Presidente Canalha

Médico Maricas E Presidente Canalha

O médico Dr. Newton lemos conta sua rotina no combate ao Covid e ironiza ter recebido apelido de maricas e frouxo, pelo presidente do país. Nos leva a refletir que maricas  é quem foge de um debate presidencial apresentando atestado. Maricas  é quem mente compulsivamente e se esconde atrás de publicações virtuais cheias de . Maricas é o ignorante que agride e ofende os outros por saber que pode se esconder atrás de um pesado esquema de . Maricas é quem integra uma família que lava dinheiro público e o desvia para enriquecimento pessoal. Por fim, mariquice suprema é usar-se de uma situação de suicídio para politicagem rasteira, da pior qualidade

Hoje no plantão atendi a duas gestantes com suspeita de COVID 19. A primeira foi examinada, colheu sangue, foi notificada, orientada e seguiu para seu isolamento domiciliar junto com o marido. Como os dois trabalham fora, forneci o atestado médico de afastamento para ambos.

A segunda gestante sintomática estava em de parto. Como há a necessidade de isolar estas pacientes, arrumamos um local onde pudéssemos acompanhá-la no hospital. Imaginem vocês uma dando à luz uma e, ao mesmo , preocupada com o próprio destino.

Chegou a hora do parto e todo um aparato de segurança foi acionado. Eu entrei na sala do bloco para auxiliá-la e, daí a pouco, nasceu um menino grande e forte, pesando quase quatro quilos.

Imaginem vocês o conflito e sofrimento adicionais desta mãe ao parir nessas condições e cercada de medos. Imaginem o meu temor, ao me posicionar para executar meu trabalho, sujeito a uma possível contaminação e outros riscos.

Mas eu sou um maricas. Segundo o presidente lunático deste país, há muito exagero ao se considerar os relacionados ao coronavírus. Sou um medroso, um frouxo.

Gostaria que ele pudesse estar só um minuto que fosse na minha pele nessas circunstâncias. Gostaria que ele pudesse sentir a responsabilidade em receber uma nova vida em meio a um risco de adoecimento por um vírus que já infectou milhões e matou muitos milhares de brasileiros.

Ir para a frente de uma câmera e chamar os outros de maricas é fácil. Mas maricas de fato é quem foge de um debate presidencial apresentando atestado. Maricas mesmo é quem mente compulsivamente e se esconde atrás de publicações virtuais cheias de fake news. Maricas é o ignorante que agride e ofende os outros por saber que pode se esconder atrás de um pesado esquema de segurança. Maricas é quem integra uma família que lava dinheiro público e o desvia para enriquecimento pessoal. Por fim, mariquice suprema é usar-se de uma situação de suicídio para politicagem rasteira, da pior qualidade.

Protejam-se. Não acreditem em nenhum momento que há uma que está ganha. A vitória só deverá chegar com uma vacina efetiva e segura, seja de que nacionalidade for. Respeitem suas vidas e as das pessoas que estão ao seu lado.

E, se um dia tiverem que escolher entre votar em um maricas ou em alguém que despreze a vida e brinque com a morte, escolham o maricas.

?by Dr.Newton Lemos

Via Whatsapp

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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