Mercadante: Lula é a síntese do povo brasileiro

Mercadante: é a síntese do povo brasileiro

Por Aloizio Mercadante

Em fevereiro de 1985, quando propuseram a Nelson Mandela, depois de mais de 20 anos preso, uma libertação da prisão, desde que ele abdicasse de seu projeto político, Mandela com serenidade disse que já tinha chegado até ali e que não iria abandonar o compromisso com o povo dele e com o Africano.

Em declaração, por meio de sua filha Zindzi, afirmou “que a mim está sendo oferecida enquanto a organização do povo [o CNA] permanece proibida? Somente homens livres podem negociar. Um prisioneiro não pode entrar em contratos”.
Como regista a , Mandela ficou mais 5 anos preso, depois, saiu da cadeia para ser eleito presidente da República e acabar com o apartheid racial na do Sul.

Nunca é a mesma história, mas a de Lula tem muito de Mandela, de Gandhi e das grandes lideranças da história. Qualquer decisão dele, que também será a minha, tem que ser firme e serena. Esse é só mais um capítulo da incrível presença dele na história. Não deve passar ódio, revanchismo ou raiva. É preciso superar tudo isso e olhar para história, para os jovens que virão.

O fundamental é que nada vai modificar o compromisso dele de provar sua inocência e de reconquistar sua liberdade plena, essa é minha sugestão. E que o exemplo dele sirva para este país respeitar os direitos individuais e coletivos e reconstruir a Justiça, o diálogo e a convivência pacífica, em um país dilacerado.

Mas como dizia sua mãe: filho teime! Em casa ou na prisão, o  seguirá e as multidões deste padecido país querem ele de volta. Jamais vamos deixar de lutar juntos por essa bandeira, que já é uma página sofrida, mas digna da luta por democracia e por justiça. Lula é a síntese desse povo e já está na história como um dos gigantes da luta pela democracia, pela e pela soberania.

Aloizio Mercadante é ex-senador e ex-ministro da , da Casa Civil e de  e Tecnologia durante o governo Dilma

Fonte: PT

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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