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Sete mitos sobre Tiradentes e a Inconfidência Mineira

Sete mitos sobre Tiradentes e a Inconfidência Mineira

Joaquim José da Xavier, conhecido na como Tiradentes, foi enforcado e esquartejado no dia 21 de abril de 1792. Em 1965, foi proclamado Patrono Cívico da Nação Brasileira pela Lei 4.867 e é a única pessoa do país homenageada com um feriado na data de sua morte…

Por Nairim Bernardo/novaescola

Do século 18 para cá, muitas histórias se construíram ao redor da figura do mártir e da Inconfidência Mineira, revolta colonial da qual ele participou. Ao longo da história, muitos mitos foram construídos sobre Tiradentes e a Inconfidência Mineira. Alguns deles:

  1. Os inconfidentes lutaram pela Independência do

Na verdade, não. Quando a Inconfidência Mineira ocorreu, no século 18, ainda não havia a mesma consciência de Brasil como nação que temos hoje. Logo, eles não buscavam libertar todos os estados brasileiros do domínio da Coroa Portuguesa. O movimento tinha motivações específicas da região das minas, e atingia no máximo os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. A bandeira do estado de Minas Gerias é baseada na bandeira que seria adotada após a Inconfidência Mineira. A expressão “Libertas quae sera tamen” significa em latim “Liberdade ainda que tardia”

  1. O grande motivo da Inconfidência Mineira foi a cobrança de impostos sobre o ouro retirado das minas

Não se pode dizer que a cobrança de impostos foi o único motivo, isso é reducionismo. Havia um arrocho tributário, sim, e a cobrança de impostos foi usada para exaltar os ânimos da população contra o governo. Mas não foi a causa do movimento”, explica o Luiz Carlos Villalta, da Federal do Rio de Janeiro. Ainda segundo ele, o que fez as pessoas se reunirem enquanto grupo e se voltarem contra a Coroa foi o fato de terem sido prejudicadas política e financeiramente por uma série de motivos. Alguns dos integrantes do movimento perderam cargos políticos e a possibilidade de praticarem negócios legais e ilegais que poderiam enriquecê-los. “Tiradentes, por exemplo, que era militar, não foi promovido a Comandante do destacamento da Serra da Mantiqueira”. Era por essa serra que o ouro de chegava até São Paulo. Logo, sendo comandante militar da região, ele poderia contrabandear algum ouro em benefício próprio.

  1. A Inconfidência Mineira foi o movimento separatista mais importante do Brasil

Não é bem assim. A Inconfidência teve um impacto muito importante para a história do país, mas muitas outras revoltas coloniais, até mais bem-sucedidas, ocorreram. A Revolução Pernambucana de 1817, por exemplo, conseguiu instituir um governo republicano, liberdade religiosa e de imprensa, soberania popular e abolição da escravatura lenta e gradual. Esse governo foi mantido por quase dois meses, mas foi violentamente reprimido pelo governo português. O movimento mineiro nunca passou de uma conspiração, mas por que então ganhou tanto destaque? “A Revolução Pernambucana ocorreu no do país. Já a Inconfidência foi um movimento da elite branca de uma região que detinha grande poder econômico e sempre foi mais valorizada do que as outras”, explica Juliano Custódio Sobrinho, professor de História da Uninove.

  1. Era líder do movimento

Essa é uma afirmação bastante equivocada. Apesar de ter tido um papel muito importante, nunca foi líder. “Foi ele quem levou as discussões que ocorriam em reuniões privadas para um ambiente mais público, como sítios, prostíbulos, tavernas. E como ele não era uma pessoa tão bem relacionada quanto os outros inconfidentes, era o de classe mais baixa entre eles e não pertencia ao grupo de letrados, foi usado como bode expiatório”, explica Luiz Carlos Villalta, professor do departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais.

  1. Ele se entregou para salvar os outros inconfidentes

Na verdade, ele foi entregue. Em uma espécie de delação premiada, o coronel Joaquim Silvério dos Reis, que inclusive era amigo de Tiradentes, denunciou os colegas às autoridades da Coroa Portuguesa para obter o perdão de suas dívidas.

  1. O sumiço da cabeça de Tiradentes não passa de uma

Pode parecer mentira, mas não é. A pena imposta a ele é chamada de punição exemplar, ou seja, deveria servir de exemplo para que outros não cometessem o mesmo erro de trair o rei. Para que isso ficasse claro para o maior número possível de pessoas, seu foi esquartejado e as partes expostas em locais públicos. A cabeça estava exposta em uma praça da cidade de Ouro Preto, antiga Vila Rica. Durante a noite, ela simplesmente sumiu. Hoje, a praça possui o nome de Tiradentes.

  1. O corpo do mártir está enterrado no município mineiro de Tiradentes

Não. O que sobrou de seu corpo, foi enterrado em segredo no altar da antiga Capela de Sant’Anna de Sebolas.

Fonte: Pesquisa e texto da jornalista Nairim Bernardo. Excerto de artigo publicado no site Nova .


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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