O que é ser indígena?

O que é ser indígena?

O que é ser indígena?

A narrativa dos originários está em evidência, mas população desconhece sua realidade

Por Txai Suruí

Como são vistos os povos no Brasil? O que você responderia se te perguntassem o que é ser indígena? A narrativa dos povos originários está com maior evidência no Brasil e no mundo. Seja pela situação crítica e pelos ataques que vem sofrendo, inclusive por parte do governo, seja pelos modos de e visão sobre a que nos fez ser considerados pela ONU os melhores defensores da floresta.

No entanto, ainda existe um enorme desconhecimento e incompreensão sobre o que é ser indígena. Isso é o que nos mostra a pesquisa “Narrativas ancestrais, presente do futuro”, da Amoreira Comunicação.

A luta por territórios e pela valorização da e da sabedoria indígena, principalmente no combate às mudanças climáticas, é algo que vem se fortalecendo cada vez mais.

Mas uma parcela da população ainda não entende ou conhece a realidade desses povos. Ainda existe quem acredite que indígenas não podem ter , não podem estar nas , que suas aparências têm que seguir os estereótipos criados no imaginário pela contada pelo colonizador, que é “muita para pouco índio” e que na somos um atraso ao progresso.

Essas ideais são visões colonialistas e preconceituosas do que realmente representam essas diversas e ricas culturas que se baseiam na coletividade e na harmonia com a natureza.

Os celulares e as redes sociais hoje são instrumentos de luta utilizados principalmente pela juventude indígena para recontar essa história e denunciar as pressões que seus povos e territórios vêm sofrendo. Mais do que isso, são utilizados para perpetuar e fortalecer os conhecimentos ancestrais e trazem o empoderamento de sermos protagonistas das nossas próprias histórias.

Essa ideia de que não podemos ter celular está ligada a uma percepção de pobreza e de falta de inteligência que são vinculadas aos povos originários. Se você tem celular (se for um iPhone, pior), não é pobre, então não pode ser indígena.

As culturas dos povos indígenas são diversas em línguas, na espiritualidade, nos rituais, nas formas de se pintar e se vestir. Podemos ter cabelos lisos ou enrolados, ser altos ou baixos, ter a pele mais escura ou mais clara, e isso não interfere na nossa identidade.

Para que possamos conhecer melhor e mudar a forma como vemos e tratamos os povos indígenas no Brasil, convido os leitores a seguirem organizações, lideranças e comunicadores indígenas, como Sônia Guajajara, Samela Sateremawe, Tukumã Pataxó, Mari Guajajara, Wari’u, Nara Bare, Ubiratan Suruí, Matsi Wauja, Tapi Yawalapíti, @apiboficial, @coiabamazonia, @zenarede, @paiter_surui, @midiaindiaoficial e muitos outros.

_Txai Suruí
Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental – Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia_
Link:
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2022/04/o-que-e-ser-indigena.shtml

http://xapuri.info/9-de-agosto-dia-internacional-dos-povos-indigenas/

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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