O sonho da semente peregrina

O sonho da semente peregrina

Sou uma semente peregrina. Venho de um muito distante. Minhas ancestrais, chamadas angiospermas, brotaram há pelo menos 100 milhões de anos, inaugurando um capítulo da da denominado Cretáceo…

Por Altair Sales Barbosa 

Dispersada inicialmente pelo , cobri o de clorofila. Quando me originei, a Pangeia já estava fragmentada em Laurásia e Gondwana, há 70 milhões de anos. Na época, eu também fui para o Norte e para o Sul, como um tapete macio, esperando o pisoteio dos recém surgidos mamíferos. Algum tempo depois, o planeta fragmentou-se em unidades menores, formando os continentes atuais. A partir de então, fiquei isolada dos meus ancestrais e na nova terra me adaptei a cada ambiente. Adquiri feições particularizadas, dando a várias outras plantas, que hoje os botânicos classificam como espécies endêmicas.

Do alto das grandes árvores, pude presenciar a transformação do planeta. Presenciei o nascimento do homem, e vi este se esparramar pelo mundo, conquistando de forma acanhada, depois de forma violenta, os espaços que eu e minhas irmãs preparamos para ele e para os outros . Presenciei a de vários parentes, nossas matrizes, pelas ferramentas e tecnologias que o homem foi inventando.

Um belo dia entrei em estado de dormência e acordei com um pesadelo horrível. Sonhei que o havia ficado estéril e eu me encontrava dentro de uma grande estufa, num canto qualquer de uma estação espacial. No meio do meu sonho, cheguei a ouvir o som de uma viola. Senti naquele momento uma grande dor e chorei de saudade da terra. Acordei encharcada pelas lágrimas doloridas. Hoje, com os olhos lacrimejando, lhe imploro para me semear em algum cantinho fértil deste pequeno planeta, antes que meu sonho se torne realidade.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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