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ORIKI DE XANGÔ

ORIKI DE XANGÔ

Oriki de Xangô

Xangô Oluaxô —
o raio rubro
rasga o céu.

Obakossô
faz o forte fugir
de medo.

Alafim de Oió
não lute comigo.

Alafim de Oió
seja meu abrigo.

Oba Arainã
fala com boca
Oba Arainã
fala com olhos
Oba Arainã
fala com pele
Oba Arainã
fala com raio.

Leopardo de Oiá
não lute comigo.

Leopardo de Oiá
seja meu abrigo.

Alaganju
olho-de-chispa
mata o que mente
com pedras de raio.

Mastiga os juízes.
Castiga a mídia.

Oba Lubê
não lute comigo.

Oba Lubê
seja meu abrigo.

Oba Orungá dança alujá
queima a xota
da dondoca.

Oba Orungá dança alujá
queima o falo
do Bolsonaro.

Oba Orungá dança alujá
e saúda a beleza
que há no mundo.

Oba Orungá dança alujá
e saúda a beleza
que há no mundo.

Kawó Kabiesilé!

Claudio Daniel procura manter elementos do oriki tradicional (nomes e epítetos dos orixás, mitos, atribuições e atributos), mas com uma crítica contemporânea, incorporando temas da situação política e social do país.

Fonte: Claudio Manuel/ vermelho.org

XANGÔ

“Xangô é um que faz parte das religiões de matriz africana no . É o orixá dos raios e da justiça, sendo justo, bondoso, forte e ágil, e não tolerando injustiças cometidas por mentirosos e por bandidos. O sincretismo religioso fez com que ele fosse relacionado com o santo católico São Jerônimo.

Os historiadores afirmam que Xangô se trata de um personagem histórico que passou a ser divinizado depois de sua morte. Ele teria sido alafim do Império de Oió, sendo destituído de seu trono. Isso o teria feito suicidar-se, transformando-se em orixá. O seu culto era muito popular e foi trazido ao Brasil por meio do tráfico de escravizados.”

Fonte: Brasil Escola

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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