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Pedro, resistência, povos indígenas e atualidade

Pedro, resistência, povos indígenas e atualidade

Por Ana Paula Sabino

Nesses últimos tempos temos grandes perdas e importantes legados a serem considerados, sentidos e colocados em prática.

, à terra e aos filhos da terra são ações de ordem, expressas na poesia de Dom Pedro Casaldáliga e vividas pelos dois profetas da paz,  Pedro e Aritana, defensores das vidas na terra. Ambos intermediaram a demanda do indígena com a não indígena, a demanda dos povos oprimidos pelo , pelo capital.

Eles fizeram suas passagens para o mundo espiritual, Pedro do e o grande chefe dos povos do que habitam o Alto Xingu, Parque Indígena do Xingu, estão enterrados no Mato Grosso, em suas terras, em suas moradas eternas. Um à beira do rio Araguaia e outro do rio Xingu.

Os povos do Araguaia sentem o luto e os povos do Xingu também, o que nos resta é fortalecer o legado de ambos, dar força para os que ficaram seguir e permanecer na paz e luta.

Lendo algumas poesias de Pedro para atravessar o memento de dor, me deparo com essa, linda mensagem, que é tão atual, um escrito em 2006. A defesa pelos povos indígenas e a preocupação com o meio ambiente e sua devastação são temáticas recorrentes na poética de Casaldáliga:

Roubaram as Terras Índias

Roubaram as

E batizam as fazendas

Com nomes índios ausentes.

Aritana, onde está?

Debaixo da terra os mortos

Pedem os cantos da tribo…

E só respondem os bois

Calcando a paz invadida.

Aqui, onde a mata um dia

Erguera seus arcos verdes,

Se alastra o capim exangue.

O sol, que foi testemunha,

Se vinga no chão despido.

E pela estrada invasora

A seriema costura

Um telegrama impotente.

Tão atual, a poesia de Dom Pedro denuncia a prática dos latifundiários ao se apropriarem das terras indígenas, desmatando as florestas com o único objetivo do lucro. O gado ocupa o espaço das matas,  que são substituídas pelo capim e o sol acaba por servir de testemunha e vinga-se pela das árvores.

O silêncio indígena ressoa triste na voz da seriema, no luto que vivem as aldeias neste momento, a dor é de todos nós que estamos ao lado deles, junto com eles. E que os encontros e legados depois essa pandemia seja ancorado na força dos líderes que estão nos deixando. Ficamos órfãos, mais não perdemos a luta. Temos de ter fé de guerrilheir@s e amor de revolucionári@s. Sem perder o foco na força, altivez, serenidade, educação e inteligência do grande cacique.

Seguir na resistência da poesia tão atualizada de Dom PedroCasaldáliga, que vai além da religião, anuncia os conflitos sociais, históricos e econômicos, contudo, pela utopia cristã, procura manter sua voz viva e renovada, acreditando em dias melhores em uma “Terra sem males”.

Ana Paula Sabino é jornalista e membro do Conselho Editorial da .

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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