Pranto por Sérgio Mamberti

Pranto por Sérgio Mamberti

“Mas há os que lutam por toda a . Esses são os imprescindíveis.” (Brecht)

Por Tierra 

E o que pode dizer o poeta

– para quem não há transcendência –

diante do teu a caminho das cinzas

e de teu espírito de luta venerado

por amigos, filhos, amores, todos

varados pela dor de tua perda?

 

Se não pode o poeta lhe oferecer ,

passagem, páscoa, retribuições,

alguma dimensão ou conforto celestiais,

uma paz que você mal conheceu aqui

– no tempo sombrio que lhe coube viver –

dividido entre uma e outra batalha

com voz de quem ocupa o palco 

      e se sabe de

       gerais,

de gerações de lutadores,

grave, terna, a repartir inquietações e utopias?

 

Sob o azul impiedoso dos

ergo a mão esquerda para colher

a multipliccação do sol que explode

nos ipês deste setembro,

pleno de presságios,

para lançar alguma luz

sobre teu rosto serenado

e resgatar do silêncio

a voz raptada por serafins para nos dar alento

quando regressarmos depois de amanhã

ao combate das ruas,

nutridos por tua

duas ou três sementes de

cultivadas no peito,

regadas com as lágrimas escassas

nesse tempo de dores extensas.

 

Ocupados em reinventar

a primavera pública que se anuncia…

 

Pedro Tierra – Poeta da , em 15 de ssetembro de 2021. Fotos: Capa – Reprodução Instagram. Interna: Correio Braziliense. 

Sergio Mamberti Correio Brazilense


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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