Retratando a resistência indígena dos Krahô, ‘A Flor do Buriti’ é premiado no Festival de Cannes 2023

Retratando a dos Krahô, ‘A Flor do ‘ é premiado no Festival de Cannes 2023

Coprodução entre e Portugal disputava na mostra paralela “Um Certo Olhar”.

Por Cine Ninja/Mídia Ninja

“A Flor do Buriti”, da brasileira Renée Nader Messora e do português João Salaviza, foi premiado no Festival de Cannes 2023, nesta sexta-feira (26). O filme, que concorria na mostra “Um Certo Olhar” (Un Certain Regard), conquistou o Prix D’ensemble – prêmio de Melhor Equipe.

O filme teve sua estreia no dia 23, trazendo um dos temas mais urgentes da atualidade: a luta pela e as diferentes formas de resistência implementadas pela comunidade da aldeia Pedra Branca. O longa atravessa os últimos 80 anos dos Krahô, trazendo para a tela um massacre ocorrido em 1940, onde morreram dezenas de pessoas. Perpetradas por dois fazendeiros da região, as violências praticadas naquele momento continuam a ecoar na das novas gerações.

Ainda nesta semana, a equipe do filme realizou um protesto contra o marco temporal (que impede a de ), no tapete vermelho do festival.

Este é a segunda vez que a dupla de diretores sai premiada da mostra “Um Certo Olhar”. Há cinco anos, eles ganharam o troféu do júri com o documentário “Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos”, antecessor de “A Flor do Buriti”.

O troféu principal da mostra ficou com “How To Have Sex”, de Molly Manning Walker. “Augure”, de Baloji, levou o prêmio Nova Voz, “Goodbye Julia”, de Mohamed Kordofani, ganhou o prêmio , “The Mother Of All Lies”, de Asmae El Moudir, conquistou o de direção, e “Hounds”, de Kamal Lazraq, o do júri.

A disputa pela Palma de Ouro acontece neste sábado (27), contando com o brasileiro Karim Aïnouz, diretor de “Firebrand”, seu primeiro filme em inglês.

Fonte: Mídia Ninja. Foto: Divulgação. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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