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TEMPO DE NOS AQUILOMBAR

TEMPO DE NOS AQUILOMBAR

de nos aquilombar

É tempo de formar novos , em qualquer lugar que estejamos, e que venham os dias futuros, a mística quilombola persiste afirmando: “a liberdade é uma luta constante”

Por Conceição Evaristo

 

É tempo de caminhar em fingido silêncio,

e buscar o momento certo do grito,

aparentar fechar um olho evitando o cisco

e abrir escancaradamente o outro.

 

É tempo de fazer os ouvidos moucos

para os vazios lero-leros,

e cuidar dos passos assuntando as vias

ir se vigiando atento, que o buraco é fundo.

 

É tempo de ninguém se soltar de ninguém,

mas olhar fundo na palma aberta

a de quem lhe oferece o gesto.

O laçar de mãos não pode ser algema

e sim acertada tática, necessário esquema.

 

É tempo de formar novos quilombos,

em qualquer lugar que estejamos,

e que venham os dias futuros,

a mística quilombola persiste afirmando:

“a liberdade é uma luta constante”.

TEMPO DE NOS AQUILOMBAR
Foto: Conceição Evaristo/Facebook
da Conceição Evaristo de Brito, nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1946, é uma das figuras mais importantes da contemporânea. Romancista, contista e poeta, sua obra está profundamente marcada pela temática da negritude e pela valorização da . Desde cedo, Conceição Evaristo enfrentou os desafios impostos pela condição de mulher negra em uma sociedade racista e patriarcal.
No entanto, foi justamente essa vivência que impulsionou sua produção literária, transformando suas experiências pessoais em material para a criação de personagens e narrativas que ecoam as vozes de negras, geralmente silenciadas na história oficial.
Seu engajamento literário e social começou a ganhar forma na década de 1980, quando passou a integrar o Grupo Quilombo Hoje, um coletivo que desempenhou um papel fundamental na promoção da afro-brasileiraaa ConceicaoEvaristo cropped 1
Esse grupo foi responsável por oferecer um espaço de expressão para escritores negros, que, até então, enfrentavam inúmeras dificuldades para ter suas vozes ouvidas no cenário literário nacional. Foi dentro desse contexto que Conceição Evaristo deu início à sua carreira literária, publicando suas primeiras obras na série Cadernos Negros, em 1990.
Os Cadernos Negros são uma coletânea de textos que reúne poesias, contos e outras formas de expressão literária de autores negros, abordando temas relacionados à negritude, à resistência e à ancestralidade africana. Essa série se tornou um marco na literatura brasileira, não apenas por sua qualidade literária, mas também por seu papel de resistência cultural e de afirmação da identidade negra.
Para Conceição Evaristo, participar desse significou não apenas a estreia de sua obra no literário, mas também a possibilidade de compartilhar suas vivências e reflexões com um público mais amplo, rompendo com as barreiras impostas pelo racismo estrutural presente na sociedade brasileira.
A obra de Conceição Evaristo é caracterizada pela força de sua linguagem poética e pela profundidade de suas personagens, que refletem as lutas e resistências das mulheres negras em diferentes contextos históricos e sociais.
Sua escrita é um testemunho da importância de valorizar e preservar as histórias e memórias de um povo que, ao longo dos séculos, resistiu e continua resistindo às opressões e marginalizações.
Com seu trabalho, Conceição Evaristo se consolidou como uma voz potente e necessária na literatura brasileira, uma voz que ecoa as histórias de luta, dor e superação de muitas mulheres negras.
TEMPO DE NOS AQUILOMBAR
Foto: Conexão Planeta

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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