Território Krenyê, no Maranhão, recebe placas da Funai cinco anos após a demarcação
Território Krenyê havia sido demarcado em 2018, mas desde então não teve acesso às placas de aviso contra invasores
Após cinco anos de demarcação do território, ocorrido em 2018, o povo Krenyê conseguiu a colocação das placas de delimitação de Terra Indígena, na última quarta-feira (22), fruto de intensas manifestações da “Semana de Lutas: pelo direito de viver em nossos territórios”, que aconteceu entre os dias 27 de fevereiro a 3 de março de 2023, realizada pela Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão.
Durante a semana de lutas, lideranças de povos indígenas do Maranhão e do Piauí ocuparam a sede da Frente de Proteção Etnoambiental Awa, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em São Luís, no Maranhão. Já no dia 3 de março, os as lideranças participaram de reunião on-line com a coordenação da Funai, em Brasília, com a apresentação da pauta de reivindicações.
As placas, que chegaram à Terra Indígena Krenyê no último domingo (19), já estavam na Coordenação Regional da Funai no Maranhão, no município de Imperatriz (MA), mas, apenas após as reivindicações, o povo obteve esse resultado. “Esse é o primeiro posicionamento da Funai sobre a regularização da terra com os emplacamentos. Então, isso aconteceu devido a gente estar se posicionando e questionando o nosso direito”, acrescentou a liderança Krenyê.

A equipe da Funai chegou à Terra Indígena, na quarta-feira, 22, em três caminhonetes para percorrer o território e realizar a colocação das placas. A operação também foi acompanhada pelas lideranças do povo e por uma equipe do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão.Na ocasião, a Funai realizou a revisão dos pontos onde estão os marcos demarcatórios. De acordo com o povo Krenyê, alguns desses marcos foram removidos por pessoas não indígenas que entraram sem permissão no território.
“Esse é o primeiro posicionamento da Funai sobre a regularização da terra com os emplacamentos.”
Demarcação da TI Krenyê
Em 2018, após quase 80 anos de expulsão do seu território tradicional, o povo Krenyê obteve uma decisão favorável da Justiça Federal no Maranhão para a destinação de recursos para a aquisição de terras para a sua reserva indígena, localizada no município de Tuntum-MA. O território foi selecionado por meio de um edital de aquisição de imóveis lançado pela Funai em 2015. No entanto, devido à morosidade e às negativas da entidade, os Krenyê, com o apoio da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão, ocuparam uma área em fevereiro do mesmo ano para que o processo pudesse ter andamento.
*Com informações do Cimi
Fonte: Mídia Ninja . Foto: Fábio Costa / Cimi Regional Maranhão. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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