Um olhar Naif nos tempos da COVID-19

Um olhar Naif nos da

Artistas Naif lançam exposição virtual sobre pandemia

Por Zezé Weiss

E eis que nestes tempos difíceis quando, por decisão de um vírus maldito e por incompetência de um governo inapto, o mundo Brasil vira de ponta-cabeça, com nossa em desarranjo, nossa em , nossas famílias apartadas pela saudade e mortes cada vez mais perto de nós, chega o amigo Odécio com as boas-novas da naif em tempos de pandemia.

Afetadas em cheio, convivendo com a crise econômica e com o medo diário do inimigo poderoso e invisível, as artes em geral, e a naif em particular, ressurgem fortes e belas, como uma esplendorosa Fênix, vermelha e bela que, como retratada na , ressurge das cinzas. É daí, dessa força estranha que surge o Um Olhar Naif nos Tempos da Covid-19”.

Lançado internacionalmente por um grupo de artistas, instituições, galeristas, profissionais da comunicação e pessoas voluntárias, o projeto se constitui em um movimento para valorizar a arte naif, e a proposta é criar um retrato deste momento, e ao mesmo tempo colaborar na abertura de espaços para ampliar as condições socioeconômicas desses artistas, segundo release do próprio movimento.

O que vem pela frente é, em tempos de pandemia, uma mostra virtual internacional, a ser depois transformada em mostras físicas, sustentadas por parcerias da arte naif, como institutos, museus, festivais, mostras e salões. Organizada por Odécio Visintin Rossafa Garcia (55 61996611935) e Oscar D´Ambrosio Paco de Assis (55 11 985711766), a mostra pretende retratar uma visão da arte naif frente à devastação causada pela Covid-19.

Aos e às artistas naif, nacionais e estrangeiros, caberá única e exclusivamente retratar este momento de crise sanitária, ambiental, política e social por meio de sua arte, ou seja, produzirem os registros que vão compor a mostra. As obras inscritas serão organizadas e mantidas, por um ano, no formato mostra virtual, nos sites www.ciaartecultura.com.br e www.blombo.com, com ampla divulgação e com links em todos os sites parceiros no Brasil e no mundo.

As inscrições poderão ser feitas até o dia 30 de junho, por meio do envio da foto da obra, de boa qualidade, com descrição de título, técnica, dimensões e valor, contendo nome artístico, endereço completo, telefone e CPF do ou da artista. O envio pode ser feito por e-mail para barthonaif@gmail.com, ou via whatsapp: +55 61 996611935.

Para conhecer o projeto completo, acesse: www.ciaartecultura.com.br. Nós, da , vamos acompanhar de perto!

zeze 1Zezé Weiss – Jornalista. Editora da Revista Xapuri.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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