Um país do balacobaco

Um país do balacobaco: Nossa conjuntura traduzida por Mentor Neto em sábios ditados populares

Por Mentor Neto/Isto É

Nossa é rica em termos e frases de profundidade inquestionável. Conhecimento comum, da gente simples, do dia a dia, que resultou em gotículas de sabedoria muitas vezes desprezadas.
Ao longo dos anos venho colecionando esta enciclopédia aberta que, acredito, poderia ser de amplo uso para nossos políticos e governantes.
É que algumas dessas expressões caíram em desuso, mas nem por isso perderam o brilhantismo. Por exemplo, no escândalo da semana, o caso Intercept Brasil, o conselho “em boca fechada não entra mosca” teria sido de profunda utilidade.
Afinal, é fato que a divulgação de informações sigilosas sobre o ministro Sergio Moro, que “estava com tudo e não estava ”, tem potencial para criar “a maior confusão da paróquia”, um grande “rebu”.
As aplicações dessa inteligência tradicional e folclórica são infinitas. Para a interferência constante no governo atual imposta por um certo astrólogo autoexilado, caberia confortavelmente um: “Enquanto um burro fala, o outro abaixa as orelhas.” Ao comportamento dos primeiros-filhos, emendaria um “falam mais que a boca”. Sabedoria pura. E não apenas no sentido crítico.

“Entornar o caldo” me parece adequado quando nos referimos à cultura de delações premiadas na qual estamos imersos. Por falar nisso, os delatores encontram um sábio conselho no “ajoelhou, tem que rezar” ou, quem sabe, no consagrado “colocar a boca no trombone!” Já aos que preferem manter o silêncio, “boca de siri” é o ideal.
Alguns personagens desse “bafafá” que tomou conta de nossa política são protagonistas tão importantes que merecem frases conhecidas de aplicação exclusiva, já que “entraram numa fria”. Afinal, como descrever mais precisamente o que ocorreu ao ex-governador Sergio Cabral do que “foi pego com a boca na botija”?
Para os destacados empresários do ramo frigorífico, um belo “mamar na vaca você não quer, né?” é incontestável. Tenho certeza que o estimado leitor há de concordar.
O presidente Bolsonaro, por sua vez, se elegeu com a promessa de “escreveu não leu, o pau comeu”, mas a essa altura boa parte do País já percebeu que o mandatário e sua equipe são “da pá virada” e o governo que tanto prometia anda meio “borocoxô”.
Por falar em presidente, diversos ministros poderiam fazer uso dessas presentes há séculos em nosso fraseado popular. Damares Alves, nossa atuante ministra-pastora, está “pintando e bordando”, coitada. O chanceler Ernesto Araújo muita gente acha que “fala mais que a boca”.
Mas não vamos nos ater ao governo sob pena de sermos acusados de querer “puxar a sardinha”. O PT, por exemplo, está “mais perdido que cachorro em dia de mudança”. Ou “mais perdido que cego em tiroteio”. Ou ainda, já que se trata do , “mais por fora do que quarto de empregada”, expressão que nos dias de hoje é politicamente incorreta, mas que utilizo com a desculpa do devido valor e contexto histórico. Ao ex-presidente Michel Temer, reservei o “tá mais sujo do que pau de galinheiro”. Algo que guarda alguma elegância.
E os deputados e senadores do nosso aguerrido ? Ao deputado federal Rodrigo Maia vai um “não é flor que se cheire”. Ou mesmo“não é bolinho”, cuja me escapa. Nem o STF pode ser poupado, afinal, aquilo está “um quiprocó”, “um perereco” do caramba mesmo. Alguns ministros “aparecem mais que umbigo de vedete”, mas a real é que deveriam “sair de fininho”.
A verdade é que o País está “do jeito que o diabo gosta” e cabe a nós acabar logo com esse “lero-lero” e “partir pras cabeças”. Afinal, amigo, nossa situação “tá mais feia que bater na ”.
Só a sabedoria dos ditos populares pode dichavar o nosso manjado angu nacional. Precisar não precisava, já que meias palavras bastam, mas até que a parada toda ficou do caramba
Fonte: Isto É

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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