Uma cidade pode comprar sua sustentabilidade? Compras governamentais devem seguir a lógica do mercado e dar preferência a economia verde e aquisições sustentáveis.
A América Latina é um dos continentes mais urbanizados do planeta, e cada decisão de um país ou uma cidade ao adquirir bens, serviços ou obras implica em importantes repercussões econômicas e socioambientais em todo o mundo. Esta é um recente discussão de Alejandro López-Lamia, especialista em Habitação de Desenvolvimento Urbano no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), sobre questões urgentes do Brasil.
De acordo com o especialista, mesmo depois de um intenso debate, ele e os colegas não chegaram a nenhuma conclusão. Cidadãos comuns já podem optar por carros e equipamentos que consomem menos energia, como geladeiras e aparelhos de ar-condicionado.
Compras públicas – López-Lamia destaca que, de uma perspectiva econômica, as compras públicas atingiram um terço dos gastos globais em 2016, o que equivale a 8,5 trilhões de dólares todos os anos. Por outro lado, ele cita que, de acordo com um estudo recente do BID, ineficiências em compras governamentais, serviços públicos e transferências no Brasil podem custar até US$ 68 bilhões, ou 3,9% do PIB. Na região, US$ 220 bilhões por ano, ou o equivalente a 4,4% do PIB regional.
O artigo destaca que “um caminho para a sustentabilidade será em um contexto em que os cidadãos exigem maior transparência e eficiência nos investimentos governamentais, com impactos que beneficiam a sociedade e medidas efetivas para mitigar os efeitos da degradação ambiental e da mudança climática, o que é essencial reavaliar o papel das contratações públicas”.
Para o especialista, o caminho das “aquisições sustentáveis” necessita mudar a perspectiva de curto para longo prazo, integrando as dimensões econômica, social e ambiental. “Hoje, qualquer cidadão entende muito bem que os temas socioambientais são parte inseparável da equação econômica; em países com tanta desigualdade e sérios desafios ambientais como os nossos, devemos ir além de comprar pensando unicamente na eficiência econômica”, explica o especialista.
Compras governamentais – Os governos locais que incentivam a incorporação das compras verdes em seus processos de aquisições têm uma maior probabilidade de mitigar a degradação ambiental, favorecendo padrões de consumo ambientalmente amigáveis e replicáveis. “Um exemplo é o caso do Centro de Negócios e Desenvolvimento do Trabalho, um edifício ecoeficiente construído no coração do Bairro 31, um dos mais pobres de Buenos Aires, certificado com a metodologia EDGE”, explica.
O especialista destaca o salto qualitativo para compras inteligentes e as aquisições sustentáveis, que incluem as verdes, que “são transformadas em inteligentes ou inovadoras quando, além de incorporarem as três dimensões mencionadas, são usadas não apenas para uma cidade adquirir bens, obras ou serviços sustentáveis, mas também como plataforma de interação com potenciais empresas dispostas a resolver problemas urbanos via experimentação e uso de tecnologias de informação e comunicação”, conta.
De acordo com David Graham, diretor adjunto de Comunidades Inteligentes e Sustentáveis de San Diego, Califórnia, “a tendência é realizar pilotos para aquisições complexas (pilot-to-procurement), onde as cidades compartilham o problema que desejam resolver com um grupo de potenciais fornecedores dispostos a realizar testes antes de oferecer uma solução definitiva (try before you buy)”.
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