USP ensina práticas sustentáveis em laboratório a céu aberto
Por Nara Lacerda/ Brasil de Fato
No novo complexo serão desenvolvidas atividades voltadas a quem trabalha e estuda no campus, mas também à população externa. “Nós começamos a juntar as competências e chegamos a esse resultado. Queríamos ter na USP, em um lugar só, espaços para práticas, para demonstração, experimentação e envolver todo mundo”, conta o professor Antonio Mauro Saraiva, coordenador do projeto.
Instalado na Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, que fica na capital paulista, o USP Sustentabilidade disponibiliza recursos para desenvolvimento de sistemas de compostagem, mecanismos de geração de energia limpa, criação de abelhas, hortas orgânicas urbanas, jardins de chuva e construções ecológicas.
As possibilidades não param por aí, como explica a professora, Thais Mauad, vice coordenadora do projeto. “O centro estará em constante movimentação e construção. Nós vamos passar por mitigação de emergências climáticas, pela crise da fome e todos esses tipos de conhecimento são necessários e urgentes da sociedade aprender”.
Foi justamente o crescimento da insegurança alimentar no Brasil que levou professores e professoras da USP a discutir a criação de uma horta orgânica na Universidade. A ideia inicial recebeu contribuições de representantes de diversas áreas e foi ampliada para um espaço mais completo de ações.
Pesquisar e produzir soluções para a fome estão entre os objetivos iniciais do projeto, mas o foco também está nas construções biossustentáveis, nas soluções para destinação do lixo, geração de energia e uma lista extensa de possibilidades “são atividades e são propósitos muito positivos”, pontua o professor Saraiva.
No local serão oferecidos cursos, disciplinas e oficinas regulares de técnicas simples, baratas, de baixa tecnologia e que podem ser replicadas em qualquer comunidade. “O nosso desejo é que esse centro esteja lá para todo mundo e que a gente possa acender essa fagulha. É possível transformar o nosso modo de viver”, conclui Thais Maud.
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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