SÃO PAULO: INCÊNDIOS, QUEIMADAS, POLUIÇÃO E CHUVA PRETA
Brasília amanheceu coberta por fumaça neste domingo (25). Segundo o Corpo de Bombeiros, a situação é proveniente dos incêndios no interior de São Paulo.
De acordo com a corporação, a fumaça chegou até Brasília devido “a mudança de cerca de 180º na direção do vento, ainda agravada por um sistema de alta pressão que não permite a dissipação da fumaça”.
Inicialmente, os bombeiros informaram que a fumaça era decorrente dos vários incêndios que aconteceram ao longo da semana, mas a informação foi corrigida às 11h.
Segundo o MetSul, a chuva preta tem implicações significativas para o meio ambiente e para a saúde pública. Ela pode contaminar a água, afetar solos e prejudicar a vegetação. Além disso, pode provocar a degradação de superfícies urbanas, como prédios e veículos, aumentando os custos de manutenção e problemas de poluição.
Fontes: CNN, O GLOBO, Agência Brasil.
O FOGO NÃO DÁ TRÉGUA NO PANTANAL
O Pantanal, Patrimônio Nacional segundo a Constituição de 1988 e Patrimônio da Humanidade e Reserva da Biosfera por declaração das Nações Unidas desde o ano 2000, é hoje um dos biomas brasileiros mais fragilizados pela intervenção humana e pelas mudanças climáticas.
Nos últimos anos, acreditava-se que a seca no Pantanal fosse um fenômeno ocasional e periférico, atingindo o bioma de forma irregular ou apenas em áreas de transição com outros biomas. Mas a verdade é que o Pantanal, um dos biomas mais úmidos que temos, também está perdendo água.
Segundo levantamento do MapBiomas Água, o “Pantanal foi o bioma que mais secou desde 1985”. Em 2023, foi observada uma redução de 61% com relação à média histórica da quantidade de água da superfície. A seca, em consequência, resulta em incêndios devastadores. Dados do MapBiomas mostram que, nos últimos cinco anos, 9% da vegetação do bioma foi degradada por queimadas.
Além disso, segundo registros do Departamento de Meteorologia da UFRJ, apenas em junho deste ano de 2024, foi observada a maior média de área queimada no Pantanal desde 2012. Em apenas um mês, o fogo destruiu assombrosos 411 mil hectares no bioma, sendo que a ação humana é a principal causadora das queimadas. Cerca de 84% dos incêndios são gerados por ações antrópicas, segundo a UFRJ.
Segundo especialistas, as queimadas são agravadas e perduram pela falta de umidade em períodos de seca intensa, pioradas pelo processo de aquecimento global, além da ação antrópica local. Com as ações humanas acelerando o processo, acaba ocorrendo um círculo vicioso de condições que proporcionam secas mais duradouras e mais severas.
De fato, o fogo não dá trégua ao Pantanal. O Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da UFRJ detectou, nos cinco primeiros meses de 2024, que a área queimada somou 332 mil hectares, 39% mais que a registrada em igual período de 2020, quando o bioma sofreu a pior destruição de sua história.
Agora, números contabilizando os primeiros dias de junho mostram que a devastação continua aumentando. De janeiro a junho deste ano, 372 mil hectares do Pantanal foram atingidos por incêndios – área que supera a de duas cidades de São Paulo. A extensão é 54% maior do que a afetada pelas chamas no mesmo período de 2020.
Até 14 de junho, segundo a plataforma BDQueimadas, do INPE, o bioma registrou 2.019 focos de incêndio em 2024. Em igual período de 2023, foram 133 focos. Já em relação a 2020, apesar da atual área de devastação ser maior, havia mais focos – 2.206.
O Mato Grosso, que abriga cerca de 40% do Pantanal brasileiro (os outros 60% estão no vizinho Mato Grosso do Sul), lidera o ranking de queimadas dos estados neste ano, de acordo com o BDQueimadas. Entre janeiro e junho, mais de 28 mil focos de incêndios foram registrados no Brasil, sendo 7,4 mil somente em Mato Grosso, informa o G1.
O biólogo e diretor de comunicação da ONG SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa, registrou de perto as cicatrizes que o fogo tem deixado na fauna e na flora pantaneira. As imagens, exibidas pelo G1, mostram um jacaré carbonizado, carcaças de animais e a cinza tomando conta da vegetação que já foi verde.
Para se ter ideia da estiagem, o G1 informa que em 15 de junho o nível do rio Paraguai, a principal bacia do Pantanal, estava 3,1 metros abaixo da média para junho em Ladário (MS), segundo o boletim do Serviço Geológico do Brasil (SGB). Para a SOS Pantanal, além da seca, os incêndios no Pantanal resultam também do impacto das mudanças climáticas, de fenômenos como El Niño e da falta de uma articulação pública mais eficiente contra o fogo.
A maior parte dos focos se concentra no município de Corumbá, Mato Grosso do Sul, onde também foi registrada, em 2023, a maior perda de superfície de água proporcional, com redução de 53% em comparação com a média histórica.
De acordo com a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em declaração à Agência Brasil, “há um agravamento dos problemas de natureza climática e as consequências chegarão mais cedo este ano, com repercussão ambiental muito grave”.
Com isso, fica a pergunta: será o Pantanal o próximo bioma a se tornar um imenso semiárido? Não se sabe. O que se sabe é que não é de hoje que existe consciência sobre essa possibilidade e também que existe gente lutando para que isso não aconteça.
Em 12 de novembro de 2005, no dia que ficou marcado como o Dia do Pantanal, um pantaneiro, Francisco Anselmo de Barros, conhecido como Francelmo, ateou fogo ao próprio corpo, sacrificando sua própria vida para salvar o bioma que tanto amou. “Já que não temos voto para salvar o Pantanal, vamos dar a vida para salvá-lo”, foi o que Francelmo deixou escrito em sua nota de despedida.