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MNU denuncia pacote anticrime na Comissão Interamericana de Direitos Humanos

MNU denuncia pacote anticrime na Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Delegação do Movimento Negro Brasileiro denuncia pacote anticrime de Moro em audiência oficial da Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Por: Iêda Leal

Foi com muita responsabilidade e orgulho que, como secretária de Combate ao da Confederação Nacional dos Trabalhadores em -CNTE; coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado – MNU; e vice- presidenta da Central Única dos Trabalhadores de Goiás, CUT-GO, fiz parte da comitiva do Movimento Negro que representou o na Audiência Oficial da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), realizada no início deste mês de maio, em Kingston, na Jamaica.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) é uma das entidades do sistema interamericano de proteção e promoção dos direitos humanos nas Américas. Com sede em Washington, D.C., a CIDH é um órgão principal e autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), cujo mandato surge com a Carta da OEA e com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, representando todos os países membros da OEA.

Integrada por sete membros independentes que atuam de forma pessoal, os quais não representam nenhum país em particular, sendo eleitos pela Assembléia Geral, a CIDH se reúne em Períodos Ordinários e Extraordinários de sessões várias vezes ao ano. Sua Secretaria Executiva cumpre as instruções da CIDH e serve de apoio para a preparação legal e administrativa de suas atribuições.

Esta Audiência foi convocada em 4 de abril, durante o 1720 Período Extraordinário de Sessões da CIDH, em resposta a uma denúncia protocolada pelas Organizações do Movimento Negro brasileiro, em fevereiro de 2019, contra o pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça do Brasil, Sérgio Moro. O documento protocolado pelo grupo pede um posicionamento do órgão sobre as medidas e que disponibilizem um observador internacional para acompanhar o caso no Brasil.

Dentre os pontos do projeto que mais colocam em risco a comunidade negra, as entidades destacam a proposta de prisão em segunda instância, que aumentará o número de presos no país, e o menor rigor na punição e apuração de casos de homicídio cometidos por agentes de do Estado.

Composta por 14 representantes, 10 e 4 homens, de 7  estados brasileiros, dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás, Pará e , contemplando Mulheres Negras, Mães de Vítimas do Estado, Quilombolas, Matriz Africana, Mídia Negra, Favelas e Periferias, a comitiva apresentou à CIDH uma pauta unificada dos Movimentos Negros Brasileiros.

Em Kingston, tivemos duas reuniões bilaterais com relatoras da CIDH e uma reunião com toda a sociedade civil, membros da CIDH e a uma representação do governo brasileiro. Os resultados da Audiência serão oportunamente divulgados pela CIDH e pelas entidades participantes.

DELEGAÇÃO DO MOVIMENTO NEGRO EM KINGSTON

  1. Anielle Franco – Instituto Marielle Franco, RJ – Mestra em Jornalismo e em Inglês pela Universidade da Carolina do Norte nos EUA. Graduada em Letras pela UERJ. Hoje atua como professora, escritora, palestrante, e diretora do Instituto Marielle Franco.
  2. Boris Calazans – Uneafro, Relatoria SP. Advogado. Participou da formação de agentes da Década do Afrodescendente, na ONU.
  3. Danilo Cerejo – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – Conaq–MA. Advogado Quilombola. Alcântara – Maranhão.
  4. Douglas Belchior – Uneafro, SP – Professor, formado em História pela PUC-SP. Fundador da Uneafro-Brasil, ajudou a construir a Educafro. Coordenador de articulação de projetos do Fundo Brasil de Direitos Humanos.
  5. Gizele Martins – Jornalista – Fórum Grita Baixada, Movimento de Favelas—RJ e Movimento de Favelas.
  6. Iêda Leal de Souza – Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, com especialização em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade Salgado de Oliveira. Coordenadora Nacional do Movimento Negro Unificado – MNU.
  7. Lia Manso – Militante do Criola, Rio de Janeiro.
  8. Sylvia Aparecida de Oliveira – Advogada, São Paulo. Presidenta do Geledés.
  9. Nilma Bentes – Uma das fundadoras do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – Cedenpa, em Belém, e uma das fundadoras da Marcha das Mulheres Negras.
  10. Borges Franco Zimermann – Formado em jornalismo pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Um dos fundadores do portal de mídia negra Alma Preta. Militante antirracista, Pedro compõe a Rede de Jornalista das Periferias e é colunista do Midia Ninja.
  11. Rute Fiuza – Mães de Maio, Bahia. Representante do Movimento Mães de Maio no . Mãe do adolescente David Fiuzaque, que desapareceu aos 16 anos de idade, após abordagem policial em Salvador no ano de 2014.
  12. Sandra Maria da Andrade – Conaq-Minas Gerais.
  13. Sandra Regina Braga – Conaq-GO – Quilombo Mesquita, Goiás.
  1. Winnie Bueno – Matriz Africana, RS. Bacharel e mestranda em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Iyalorixá do Ile Aiye Orisha Yemanja. Integrante da Rede de Ciberativistas Negras – Núcleo Rio Grande do Sul.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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