“O segredo de nossa casa” – fábula africana
Há muito valemo-nos das fábulas para dizer, de modo eufêmico, verdades cotidianas.
Por O Ponto
A senhora já não sabia o que fazer e resolveu contar às vizinhas o que se tinha passado com o cão e o pau.
Mas, quando ia sair de casa a porta, com um ar zangado, avisou-a:
FÁBULA
A fábula é um texto narrativo de tendências didáticas muito utilizado no ensino de valores éticos e morais. Atualmente, ela é muito trabalhada nas escolas, principalmente nos anos iniciais, no intuito de demonstrar a importância de certos aspectos morais considerados socialmente essenciais em nosso tempo.
A discussão sobre a conduta do ser humano é antiga, o que pode ser demonstrado pela fábula, cuja possível origem foi estabelecida por Esopo, autor que viveu na Grécia entre os anos 620-560 a.C., quando já se tinha preocupações pedagógicas em relação à educação dos povos.
![FÁBULA AFRICANA - "O SEGREDO DE NOSSA CASA" 1 FÁBULAS AFRICANAS](https://xapuri.info/wp-content/uploads/2024/08/images.jpg)
Características e estrutura da fábula
Com relação às características, podemos elencar os seguintes elementos sobre a fábula:
Trata-se de uma narrativa breve, apresentando poucos personagens com pouca (ou nenhuma) complexidade e diversas relações alegóricas.
Apresenta uma interação entre personagens, que podem ser pessoas, animais ou seres inanimados, sendo que todos eles têm características humanas (os animais e objetos são antropomorfizados).
Apresenta uma reflexão de ordem moral (moral da história) geralmente de maneira explícita ao fim do texto. Assim, a fábula possui elementos didáticos bem definidos em sua composição, como a presença de uma linguagem clara e acessível.
Do ponto de vista estrutural, o linguista José Luiz Fiorin divide a fábula em dois planos: o narrativo e o moral.
Plano narrativo: refere-se à narração propriamente dita, com a apresentação das personagens e enredo, complicação, clímax e desfecho. Nesse plano, segue-se as características básicas do texto predominantemente narrativo.
Plano moral: é a parte final. Pode-se dizer que o fim da fábula não é propriamente o seu desfecho, mas o seu plano moral. De acordo com Fiorin, é nessa parte que se reitera o significado da narração, pois, nas palavras do linguista, “a fábula é sempre uma história de homens, mesmo quando os personagens são animais, pois estes falam, sentem paixões humanas (…) o que indica que são personificações dos seres humanos”. Assim, o conteúdo da fábula está sempre relacionado à vida dos seres humanos e, por isso, é alegórico.
Autores e fábulas famosas
As fábulas se constituíram há muitos anos, desde a Grécia Antiga, como um mecanismo didático-pedagógico direcionado aos cidadãos na intenção de ressaltar valores ético-morais importantes. O primeiro grande fabulista de que temos registro foi Esopo, escravizado e contador de histórias que viveu na Grécia entre 620-560 a.C. A cigarra e a formiga, A lebre e a tartaruga e O lobo e o cordeiro são algumas das fábulas mais famosas desse autor.
Fedro foi outro fabulista cuja produção sobreviveu ao tempo. Ele viveu em Roma, no século I d.C. Já La Fontaine é o mais contemporâneo dos três. Ele viveu na França do século XVIséculo XVI e é considerado o pai da fábula moderna, enquanto Esopo seria o grande criador do gênero.
Com relação às fábulas produzidas por Fedro e La Fontaine, muitas delas foram reinterpretações para as suas respectivas épocas de obras como A cigarra e a formiga ou A lebre e a tartaruga, criadas originalmente por Esopo. Pode-se dizer que esse processo de releitura na produção clássica de Esopo ajudou a tornar essas fábulas famosas.
Como se faz uma fábula?
Para fazer uma fábula é preciso, em primeiro lugar, definir o aspecto didático-pedagógico a ser transmitido. Em outros termos, é preciso saber o porquê da fábula. O que o autor pretende? Ressaltar a importância de se ter coragem, ou as consequências da desonestidade? É com base nessa definição de orientação ética e moral que o autor deve direcionar seu enredo e seus personagens.
Assim, em segundo lugar, com as definições pedagógicas esclarecidas, o autor precisa definir o seu enredo, o espaço e as personagens que vão compor a sua história. Quem são? Onde estão? O que estão fazendo? Essas são as perguntas que ajudarão nessa etapa.
Em terceiro, durante o processo de escrita, é importante atentar-se para a linguagem utilizada no texto. Ela precisa ser simples e breve, e seu conteúdo é claro. Em uma fábula, não há espaço para questões controversas por conta de suas características e viés didático.
Por fim, em quarto lugar, vem o que o linguística Fiorin chamou de plano moral. A moral da história vem após a narrativa do texto e deve ser sucinta e clara ao leitor. Ela pode também conter elementos alegóricos presentes na narrativa e retomados ao final.