A morte – os rituais de enterro na Cultura Iorubá
Os iorubá acreditavam que ao morrer iriam para outro mundo, semelhante a este. Por esse motivo, os mortos eram muito bem cuidados, para não passarem vergonha quando lá chegassem. O caixão seria a casa do morto no outro mundo
Maria Inez Couto de Almeida
O povo apresentava dois comportamentos diferentes diante da morte. Se morresse um jovem, ou ocorresse uma morte inesperada, era encarada com tristeza. Já se morresse um velho que teve uma vida próspera, todos festejavam.
Se um jovem morresse subitamente, todos choravam muito, e procuravam descobrir o motivo, chamando até o espírito do morto para dizer se fora ele mesmo (espírito) quem havia levado a pessoa, ou se fora um trabalho feito por alguém.
O corpo era enterrado dentro de casa, e a família fazia muitos trabalhos espirituais, para que o mesmo não acontecesse com outros membros. Se morresse uma pessoa pobre, sem parentes para pagar o enterro, os conhecidos enrolavam o morto em suas roupas, e cavavam um buraco, fazendo o enterro sem nenhuma despesa.
No caso de um mendigo ou um leproso, era enterrado no mato, longe da cidade. Se uma pessoa morresse ao visitar alguém, deveria ser enterrado na casa onde morreu, pelo dono da casa, que mandava avisar a família do morto. Uma morte muito triste era a de mulher grávida. A criança deveria ser tirada da barriga, e a mulher, em algumas localidades, era levada para o mato, e encostada a uma árvore.
O corpo de um corcunda (abuké) também não podia ser enterrado dentro de casa. Devia ser levado para o mato, e feito um ritual. Já os presidiários não eram enterrados.
O corpo ficava jogado para os animais comerem. Por causa disso as pessoas evitavam fazer coisas erradas, com medo de morrer na prisão.
Quando uma pessoa morria de sarampo – que era considerado o Orisa Sonponno – a família não podia chorar, para não aumentar a força dele. Todos vestiam roupa de festa, bebiam e dançavam.
Não se podia dizer do que a pessoa tinha morrido, só “Baba gbe e lo” (o pai o levou), ou “Baba ti gbe e ni iyawo” (o pai casou com ele).
O enterro era feito pelas pessoas que cuidavam do Orisa, e o corpo era enterrado fora de casa, num local que só essas pessoas
conheciam.
Quando um raio matava uma pessoa, os filhos de Sango levavam o corpo para um lugar chamado áró, deitavam-no junto ao fogo, e faziam um ritual para tirar o raio e tentar acordar o morto.
Conta-se que havia casos em que a pessoa acordava, mas se o raio fosse fulminante, o corpo era enterrado num local desconhecido da família, com todos os pertences do morto e algumas oferendas. Se alguém caía de cima de uma palmeira, era enterrado no local onde caiu.
Quem morria afogado devia ser enterrado na beira de um rio. Os caçadores famosos eram enterrados no mato pelos outros caçadores. Eles pegavam todos os pertences de caça do morto, e colocavam-nos numa árvore próxima ao local, arrumados como se fosse uma pessoa, com o chapéu, a bolsa e a arma presos nos galhos da árvore. Ali eram feitas oferendas para o morto.
Ao morrer um rei, ninguém podia comentar o assunto. Só depois de serem feitos os rituais era dado um toque num tambor especial, anunciando à cidade que o rei havia morrido.
Em Oyo o corpo do rei era levado para um lugar chamado bara, e até chegar lá o cortejo parava em onze locais diferentes para fazer rituais. Antigamente o rei era enterrado com doze pessoas: quatro mulheres em baixo, quatro em cima, e dois homens de cada lado do caixão. Eles seriam os empregados do rei no outro mundo. Algumas dessas pessoas chegavam a tomar veneno para serem enterradas com o rei e servi-lo no outro mundo.
Fonte: Dialogarts CULTURA IORUBÁ Costumes e Tradições – Ifatosin – 2006