Acre: Ex-seringueira Marlene Maciel forma 11 filhos na faculdade

Acre: Ex-seringueira Marlene Maciel forma 11 filhos na faculdadde

‘Ou colocava todos na ou não colocava nenhum’, diz Marlene Maciel.

Por O Segredo  

Quando os filhos de Marlene Costa Maciel começaram a crescer, ela e o marido abandonaram a no Seringal Extrema, no Rio Moa, e se mudaram para uma propriedade rural no Ramal Macaxeiral, na zona rural do município de Cruzeiro do Sul, para permitir que os filhos pudessem estudar e ter melhores oportunidades.
Deu certo! Dos 14 filhos vivos do casal – nove homens e cinco – onze se formaram na faculdade e outros dois estão concluindo os cursos e um ainda não ingressou no ensino superior.
O marido infelizmente morreu em 2015 e não pôde ver o êxito da família.
Tem filho assistente social, formado em letras, física, enfermagem, ciências contábeis, biologia, engenharia florestal, pedagogia e até medicina, apesar das dififuldades.
Meu marido dizia que ou colocava todos na escola, ou não colocava nenhum. Plantamos muita roça para fazer farinha. Quem estudava de manhã trabalhava à tarde e quem estudava à tarde trabalhava pela manhã. Quem estudava à tarde saía de casa às 10h30 e só chegava às 20h, lembra a mulher, hoje aposentada.

O nome dessa guerreira é Marlene da Costa Maciel, uma ex-seringueira do interior do Acre, viúva, que tem 59 anos.

 Roupas emprestadas

A união entre os irmãos, que segundo eles é fruto das adversidades que enfrentaram, ajudou muito também.
“Hoje a gente vê com risos, mas na época era muito sofrido. Imagino quanto minha sofreu. Como não havia vestimenta para todos, quem estudava à tarde esperava os irmãos chegarem da escola para pegar a roupa e o calçado. Muitas vezes nossa mãe fazia farofa com um ovo para sete comerem. A gente nem via o amarelo da gema do ovo”, lembra o escrivão da Polícia Civil de Cruzeiro do Sul, Geovane Maciel, de 33 anos.
O laço entre os irmãos acabou se mantendo também na vida profissional de parte deles. Sete trabalham em órgãos da do .
“Eles sempre foram unidos. Primeiro trabalharam quatro nos Correios. Depois começaram a fazer concursos e foram passando. Hoje tenho quatro na Polícia Civil, dois no Iapen [Instituto de Administração Penitenciária] e uma no de . Sinto muita emoção. Isso é providência divina em nossas vidas, sinto muito orgulho dos filhos que tenho”, diz Marlene emocionada.
Orgulho e agradecimento
Filho mais velho da ex-seringueira, o agente penitenciário Jerry Maciel de Souza, de 37 anos, é categórico ao dizer que o sucesso da família se deve à força da mãe.
“Temos muito orgulho de nossa mãe. Todos têm faculdade e a maioria tem bons empregos. Isso foi graças a Deus, nosso esforço, e, principalmente, o zelo de nossa mãe que sempre nos estimulou a buscar na escola nosso . Nossa mãe é uma guerreira e vamos sempre estar ao lado dela”, finaliza.
Com informações: G1

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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